A escrita como cura para a mente

Esse título não pergunta nem levanta hipótese: ele afirma a escrita como cura para a mente.

Em 2018 passei por uma experiência traumática, que relato nesse artigo aqui. Quando consegui repor as energias – ou, pelo menos, tentei –, minha mente respondeu de uma forma curiosa: eu danei a escrever. Foram vários artigos, páginas do meu livro, contos. Gastei minha criatividade lendo e escrevendo.

Isso me fez tão bem que passei a ter certeza: a escrita cura. Não é frase de efeito dita por coach quântico, não é jargão motivacional, é apenas a realidade. A escrita é capaz de nos curar da insanidade, em momentos muito difíceis, e nos traz esperança quando as coisas parecem estar perdidas.

Escrever é, de certa forma, um ato terapêutico. Não digo que substitui a terapia, mas a complementa. É a forma de tirar dos ombros, e dos pensamentos, aquilo que nos deixa curvados, prestes a cair.

A melhor parte é: você não precisa mostrar o que escreve pra ninguém para que a atividade cumpra seu papel de cura. Dá pra guardar pra si o que está no papel e, ainda assim, se sentir mais leve após trancá-lo na gaveta.

Quando paro pra pensar nisso, lembro de mais um trecho de Sobre a escrita, de Stephen King.

Não sei se você sabe, mas, enquanto estava fazendo este livro, Stephen foi atropelado por uma van. O motorista parecia estar bêbado. King ficou entre a vida e a morte, com múltiplas fraturas, que se estenderam por meses de dor, durante o período de recuperação e até depois dele.

Por causa do acidente, Stephen parou a obra na metade. Mas, de repente, se deu conta que tinha algo além dos remédios para ajudá-lo a passar pela dor: continuar o projeto. O escritor conta que, por vários dias, driblou as dores para conseguir escrever mais um pouquinho – mas que, com o passar do tempo, sentiu sua melhora acelerar conforme sua escrita fluía. 

E se a escrita como cura for placebo? 

Que seja. Pelo menos deu certo, não deu?

Essa passagem da vida de Stephen King norteia muitas decisões que tomo sobre escrever, principalmente no complemento do meu processo terapêutico. Às vezes tenho dor de cabeça, cólica, febre, mas sempre faço o possível para dar vazão a, ao menos, um parágrafo.

Sempre que me sento com cadernos, ou na frente do computador, pra escrever pra mim (e, às vezes, só pra mim, mesmo), me sinto melhor.

Isso não quer dizer que escrever não cause sofrimento. Só quem pega a caneta é que sabe. Escrever é um processo longo, custoso, solitário. Exige repertório, ideia, ultrapassar bloqueios criativos e dar uma chance ao papel mesmo quando a preguiça grita.

Acho que escrevo tanto porque sou leitora, e leio tanto porque amo escrever, com todas as chatices e defeitos que esse processo tem.

É por isso que, hoje, quero te deixar com a frase que eu disse lá em cima: a escrita cura. Às vezes, igual mertiolate (gente da minha época vai sacar a referência): se tá ardendo é porque tá fazendo efeito.

Logo, logo a casquinha vem, mostrando que a gente cicatrizou.

Em outras palavras, escrever pode doer. Tirar fantasmas dos armários do passado vai te deixar de saco cheio, mas nunca, nunca mesmo, vai te deixar mais doente do que você sente que está. E sabe por que? Porque a doença mata, enquanto a letra eternaliza.

Você não precisa ser uma pessoa famosa, influenciadora, celebridade, pra se tornar imortal. Quando sua ideia toca a página, você já é.

Se tiver sorte, é exatamente nesse ponto que você começa a se curar.   

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