A relação entre trilha sonora e escrita criativa

Tenho duas formas bem específicas de produção escrita.

Quando escrevo para clientes, sobre assuntos que não domino e/ou não requerem um storytelling apurado, mas informações precisas e corretas, saio de todas as abas do navegador que podem me distrair (redes sociais, Whatsapp Web, blogs, sites randômicos) e desligo a música.

As notificações do meu celular inexistem, se você está se perguntando o que faço com ele. Meu celular só me notifica duas coisas: transações bancárias e ligações. Por isso, amigos, quando vocês me mandam uma mensagem e respondo só cinco horas depois, é por isso: estive escrevendo e meu celular não manda em mim; eu é que mando nele.

Mas, voltando, desligo a música. Por que? Porque não consigo entender, sei lá, “manejo nutricional em caprinos e ovinos” (é sério, realmente fiz um conteúdo sobre isso recentemente), com os Hanson cantando Mmmbop no meu ouvido.

Essa é a situação número 1. As pessoas me pagam para escrever por elas, então preciso prestar atenção, estar sempre focada, conscientemente voltada para o assunto em questão, no modo “estudiosa”.

Por mais que qualquer trabalho tome bastante da minha criatividade, não consigo compartimentar. Não consigo estudar sobre algo que não conheço – manejo nutricional em caprinos e ovinos não é algo que leio com frequência – e ouvir música ao mesmo tempo.

Na faculdade também era assim. Na escola também. Superei e sobrevivi.

Mas existe a situação número 2, que é quando eu escrevo criativamente para mim mesma. Quando estou com as abas do Literama abertas, quando rabisco novos rumos para o livro, quando penso em um conto, um post de redes sociais.

Aí, é muito diferente: não só preciso ouvir uma música como tenho uma playlist específica. É como se a música ideal me levasse a encontrar as palavras certas e a música errada fizesse eu me perder no raciocínio. É complexo. É intenso.

E muito importante.

Para você ter uma ideia do quanto uma boa playlist significa pra mim, digamos que eu tenha escrito um capítulo inteiro do livro ouvindo uma música X, ou que ela me lembre a personagem tal. Se estou na rua pensando sobre a porcentagem de rendimento do CDB pelo CDI e a música X começa a tocar, eu, imediatamente, a pulo.

Ela não foi feita pra pensar sobre isso e não posso correr o risco de gastá-la, de enjoar dela só porque ela tocou em um momento impróprio. Ela vai ser ouvida mais tarde, nas minhas sessões de escrita depois das oito da noite, que é quando paro o que estiver fazendo para trabalhar pra mim.

Eu separo o joio do trigo, senhoras e senhores. Sugiro que vocês façam o mesmo.

Há música o suficiente no mundo para ter playlists compartimentadas: músicas para academia, para pensar nas fossas, para criar coragem de mandar mensagem para alguém e para escrever uma obra de arte, dentre outras muitas atividades das quais o ser humano é capaz de fazer.

Qual é a playlist perfeita para escrever?

Essa é a resposta que eu jamais poderia te dar, porque eu não sou você. A playlist perfeita para que eu escreva é, possivelmente, diferente da sua.

Portanto, ao invés de procurar no Spotify por uma “playlist para escritores” certifique-se de que você tem uma fonte musical de inspirações que é só sua.

Montar uma não é difícil: basta prestar atenção nas músicas que te tocam, que despertam o melhor de você, da sua criatividade, juntar tudo em uma listinha e, voilá, sua ferramenta moderna de ouvir ideias está montada.

Sim, ouvir ideias, pois pode estar no meio de uma música que você não ouvia há anos a inspiração para um novo poema, conto, livro, projeto, trabalho de faculdade, redação para o trabalho… aliás, não é porque EU não consigo trabalhar ouvindo música que VOCÊ não vai conseguir também. Ao contrário, o que mais vejo por aí é gente fazendo textos incríveis com Iron Maiden no talo.

Uma música que sempre me dá vontadinha de escrever mais e fazer as coisas mais bem feitas é Unwritten, da Natasha Bedingfield. Ela é um guia de como escrever no meio de um bloqueio criativo. Acho a música super poderosa, com uma melodia animadora. Então, sempre que preciso de um puxão de orelha, por exemplo, alguém que me diga para sair do lugar, pensar em o que eu preciso fazer, apelo para minha amiga Natasha.

Exemplo prático: um dia acordei com preguiça, sem inspiração nenhuma, fui para a academia e, na hora de ir embora, começou a chover. Nada com raios e trovões, nada para gerar enchente. Uma chuva simples. As pessoas se aglomeravam na porta, imaginando o que fariam agora que começou a cair água do céu e elas não poderiam se molhar.

Eu coloquei Natasha nos fones de ouvido e, na primeira batida, saí felizona de lá. Feel the rain on your skin. Falou e disse, irmã. Com essa trilha sonora, andei pelas ruas como se a vida fosse um filme e repeti a canção em looping infinito, até chegar ao meu destino. Ela gritava no meu ouvido:

Sinta a chuva na sua pele

Ninguém a sentirá por você

Só você pode deixa-la entrar

Ninguém mais, ninguém mais

Pode falar as palavras que estão nos seus lábios

Molhe-se nas palavras não ditas

Viva a vida de braços abertos

Hoje é o dia em que seu livro começa

O resto ainda não foi escrito

Conclusão: cheguei molhada, emocionada, inspirada e com sangue nos olhos. Pensando: é agora ou nunca. Um dia que começou ruim, preguiçoso, virou um dia de intensa produtividade. Por causa de uma música.

Imagina quando você junta um monte dessas em uma seleção que te faz sentir tantas emoções que um papel só não é o suficiente? A música tem um poder de inspiração e motivação que poucas outras coisas têm. Acho que só a leitura de algo realmente poderoso se equipara a isso.

(A propósito, minha segunda tatuagem é uma música do Blink 182. E meu nickname em redes sociais e sites que precisam de nome de usuário não é lilarockshow à toa. Seguindo em frente, …)

A playlist do meu livro

Estou sugerindo dicas de como escrever um livro nesse texto aqui, mas o passo da playlist merecia um capítulo à parte e aqui estamos. Como não sou de esconder o ouro, e talvez você esteja precisando de ajuda, vou colocar aqui a playlist criada para me fornecer inspiração e motivação para esse projeto.

Talvez você possa ver, nas linhas escritas do livro pronto, alguma coisa ou outra das músicas em questão. Em um primeiro momento, perceberá que minha seleção não faz o menor sentido: os estilos musicais são muito diferentes, eu passeio demais por várias áreas, várias pessoas e crio uma trilha sonora que, para um filme, talvez não daria certo.

Mas para escrever um livro está servindo bastante. 😉

Não quero que você adote essa playlist como a que vai fazer mais sentido pra você porque, como disse antes, cada um tem a sua – e a minha está em construção. Pode ser que aumente até o final do livro, pode ser que tenha menos nomes, porque as que não fazem mais sentido eu vou tirando do caminho.

Fato engraçado: a música que me deu a ideia inicial do livro, em 2010, não está na minha playlist. Ela já foi utilizada para o parto da musa inspiradora; agora, está descansando e esperando para conhecer a cria.

A música em questão é Ela disse adeus, dos Paralamas do Sucesso.

E a listagem (in)completa da playlist do primeiro livro é essa aqui:

  1. Action (Blink 182)
  2. All I want is you (U2)
  3. American Pie (Don McLean)
  4. Bella ciao (Banda Bassotti)
  5. Bohemian Rhapsody (Queen)
  6. Catch Release (Matt Simons)
  7. Che sara (Jimmy Fontana)
  8. Cupid (Daniel Powter)
  9. Dear Maria count me in (All Time Low)
  10. Defying gravity (do musical Wicked)
  11. Divino maravilhoso (versão com Maria Gadu)
  12. Don’t stop me now (Queen)
  13. Father and son (Cat Stevens)
  14. Fica (Anavitória)
  15. Forever young (Alphaville)
  16. Girls like you (Maroon 5)
  17. Hey, that’s no way to say goodbye (versão com Renato Russo)
  18. I lived (One Republic)
  19. I wont give up (Jason Mraz)
  20. I’ll be the one (Backstreet Boys)
  21. Islands in the stream (Dolly Parton e Kenny Rogers)
  22. It only takes a taste (versão com Sara Bareiless e Jason Mraz)
  23. It’s a heartache (Bonnie Tyler)
  24. It’s the end of the world (R.E.M.)
  25. Jonele (versão de Brooke White)
  26. Karma Chamelion (Culture Club)
  27. Kiss me Darling (Twin Forks)
  28. Lucky (Jason Mraz e Colbie Caillat)
  29. Me and Bobby McG (Janis Joplin)
  30. Might as well dance (Jason Mraz)
  31. Million reasons (Lady Gaga)
  32. Blue Sky (Electric Light Orchestra)
  33. Curiosity (Jason Mraz)
  34. Na estrada (Marisa Monte)
  35. No one (Alicia Keys)
  36. Penny and me (Hanson)
  37. Piece of my heart (Janis Joplin)
  38. Porque eu te amo (Anavitória)
  39. Pra você dar o nome (5 a Seco)
  40. Quase sem querer (Legião Urbana)
  41. Quiet (Jason Mraz)
  42. Rivers and Roads (The Head and the Heart)
  43. Scrivimi (versão com Renato Russo)
  44. Shallow (Lady Gaga)
  45. She don’t want nobody near (Counting Crows)
  46. Small infinity (Whim)
  47. Somebody to love (Queen)
  48. Tenerife sea (Ed Sheeran)
  49. Threesome (Fenix TX)
  50. Torn (Natalia Imbruglia)
  51. Traveling Thru’ (versão de Jason Castro)
  52. Unbreakable (Jamie Scott)
  53. What if God was one of us (Joan Osbourne)
  54. When I was your man (Bruno Mars)
  55. You get what you give (New Radicals)
  56. You’re the inspiration (Chicago)

Se você gostar da maioria dessas músicas, são grandes as chances de você gostar do meu livro (se quiser ler os primeiros capítulos e ser cobaia, deixa o seu e-mail nos comentários ou me mande uma mensagem). Mas, se você não gostar, tudo bem, você não precisará viver com elas para sempre.

Só transcrevo uma, em um dos últimos capítulos.

Qual será? Quem viver verá. 😉

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