Eu não vou te pagar em pizza

Reflexões pós-leitura de Como Fazer um ótimo trabalho sem ser um babaca

Uma frase que costumo dizer muito é: se você acha que pode me comprar com comida, está absolutamente certo/a. Sou o tipo de gente que vai a eventos pela comida, que gosta mais de comer que de beber e tem a opinião sobre alguém influenciada por suas habilidades gastronômicas. 

Contudo, quando o assunto é trabalho, nem pense em me pagar em pizza. 

Não aceito uma coisa dessas.

Já trabalhei em ambientes em que ficar depois do horário e ter a empresa comprando pizzas para o serão (desenterrei, hein?) era considerado normal. Se tem tecnologia envolvida, ou é startup de carne e osso, então, pecado é não fazer hora extra quando se tem pizza. Sem contar as piscinas de bolinhas, vídeo games e as salas de soneca.

Antes que você me entenda mal, amo tudo isso. Não nego. Quando trabalhei em um ambiente “inovador” desses, adorava essas coisas – e essa adoração por um ambiente divertido, até com cerveja no frigobar, parecia ser consenso geral.

O problema é que tudo isso faz parte do que chamamos de escravidão moderna. São pequenos deleites que as “empresas altamente descoladas” dão a seus colaboradores em substituição ao aumento de salário ou pagamento de horas extras. Afinal, quem vai reclamar da empresa onde o trabalho vai até meia-noite, mas às 20h tem pizza e às 22h você até pode abrir uma cervejinha?

Bom, eu reclamo. 

O negócio é que a gente cresce  

Se, aos 20 e poucos, eu achava esse tipo de trabalho um must, hoje eu não me submeteria a ele nem se fosse Sheryl Sandberg me convidando para ser do seu time. Simplesmente não me encaixo mais. Ainda erro muito como gestora – papel que tento melhorar a cada experiência frustrada, aprendendo com todos os erros que carrego –, mas tem coisa que a gente apenas não repete. 

capa como fazer um ótimo trabalho sem ser um babaca

Esse negócio de pagar os outros com comida, cerveja e não sei mais o que é algo que não existe mais na minha bolha trabalhista. 

E por que estou falando disso? Esse é o ponto de partida do livro Como fazer um ótimo trabalho sem ser um babaca, de Paul Woods: não pague sua equipe com pizza. Não subestime a vida pessoal dos seus colaboradores. E, principalmente, não seja um babaca com todo mundo à sua volta.

Confesso que ler essa obra, editada pela Belas Letras em parceria com a loja Aff the hype, me causou coisinhas no estômago. Me identifiquei inúmeras vezes como sendo a babaca do título, e por coisas que eu jamais diria que são tidas como babaquices.

Mas, quanto mais a gente cresce e aparece, mais vê que o modo como já trabalhamos, como fomos liderados e a forma com que nossos superiores se dirigiam a nós no passado já não cabe mais. A evolução das relações profissionais é constante – e é uma pena que muita gente pare no tempo e não reflita sobre como as coisas mudaram.

Como fazer um ótimo trabalho sem ser um babaca – versão quarentena

A leitura desse grande ensaio de Paul Woods contra a babaquice no ambiente profissional é muito fluida e fácil. Em poucos dias (ou horas, dependendo da sua disponibilidade) você termina o livro todo.

Da experiência, o que eu mais tirei para a vida são dicas como não receber o crédito pelo que você não fez – um clássico, principalmente das grandes empresas que lidam com criatividade e que têm gestores egocêntricos -, não achar que o trabalho do outro é menos valioso que o seu e esquecer que as pessoas têm uma vida depois das cinco da tarde.

O capitalismo falha com a gente de inúmeras maneiras, mas no quesito profissional essa é a mais pungente: quem emprega muitas vezes se esquece que as pessoas trabalham como uma de suas atividades de vida, e não vivem para trabalhar para elas.

Em 2020, com a quarentena – e agora, em 2021, com a continuidade do isolamento social – eu percebo a babaquice de longe, principalmente quando vejo as manifestações pela volta das atividades comerciais. Vemos empresários de todos os nichos gritando a plenos pulmões que “fome também mata”, mas não me recordo de isso ser um problema para eles em âmbito geral. 

Me corrija se eu estiver errada, mas os empresários desse país já se juntaram tão avidamente para pedir ao governo que desse a eles condições de manter os empregos da sua equipe em outros tempos? Ou para acabar com a fome em alguma parte do país onde a miséria é soberana?

A maioria das pessoas que vai para as ruas se manifestar, de dentro de seus carros, ou mostra sua enorme preocupação com a economia e os empregos que gera sequer vai trabalhar no estabelecimento. O que elas querem, mesmo, é que as pessoas continuem arriscando sua vida para gerar o lucro delas. 

Particularmente conheço inúmera pessoas que andam perdendo o sono porque a “fome mata mais que coronavírus” e que, na retomada do comércio, foram se isolar em praias desertas ou mansões de luxo no meio do mato.

Assim é fácil querer que as atividades voltem…

Mas qual é a solução?

Se eu tivesse a solução, já teria feito o possível para implementá-la. Seria coach de capitalista assombrado, o que acha? ;p 

Mas tenho, claro, algumas sugestões – e muitas delas tiradas da leitura de Como fazer um ótimo trabalho sem ser um babaca.

tipos de egomaníacos no livro como fazer um ótimo trabalho sem ser um babaca

A primeira delas é: respeite as pessoas que trabalham com e para você, e o primeiro passo é ser implacável na honestidade. Tem muito negócio que, sim, vai se dar mal – principalmente as micro e pequenas empresas, que não têm caixa fixo e nem ajuda do BNDES para repor caixa. Se você está nessa situação, como gestor, o melhor a fazer é abrir o cenário para a equipe, apresentando um plano claro de contingência. 

Além disso, não exija que as pessoas saiam de suas casas para trabalhar se você não for fazer o mesmo. Não interessa se sua função é “apenas administrativa”: se tiver gente trabalhando dentro do navio é porque o capitão também está lá. 

No ambiente de trabalho, faça tudo o que for possível para manter a segurança e integridade física de todos os trabalhadores. E nunca, jamais, em tempo algum, peça para que as pessoas se dediquem ao negócio o mesmo tanto ou até mais agora se elas não vão receber o salário integral. 

Lembre-se de exigir de cada um conforme a situação correspondente. Se você precisou diminuir o salário do seu funcionário pela metade, o tempo de contribuição dele à empresa deve seguir essa proporção.

Não sei se, seguindo essas dicas, a empresa vai ganhar mais dinheiro ou mais prestígio, mas sei que você não será um babaca com as pessoas que convivem contigo, e isso é o suficiente por ora.

Antes de sair…

… lembre-se de deixar um comentário sobre a obra, a reflexão que partiu dela ou suas experiências em relação ao trabalho cravejado de babaquices. Aproveite e siga o Literama no Instagram para mais papos como este.

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