Como montar um clube do livro?

E, se montar, me chama.

Recentemente assisti ao filme A Sociedade literária e a torta de casca de batata, que é baseado em um livro de mesmo nome, e fiquei tentada a fazer uma espécie de sociedade literária também. Motivo: adoro falar de livros quando eles me tocam profundamente ou me divertem bastante. Obstáculo: montar um clube do livro não é fácil.

Se fosse, acho que eu já teria feito alguns por aí. A realidade é que muitos dos meus projetos que envolvem outras pessoas dão com os burros n’água, já que é criar comunidades, diferentemente do que o Orkut nos mostrou, demanda uma atenção imediata às demandas de seus membros.

Com a ideia na cabeça, comecei a pesquisar como montar um clube do livro e, dentre muitas dicas interessantes, acredito que o comprometimento da pessoa moderadora é o primeiro e definitivo passo. Não dá pra criar um clube, postar e sair correndo; é muito importante estar presente, fomentar discussões e sugerir conteúdos que acrescentem valor à vida da comunidade.

Nesse artigo vou compilar as dicas mais interessantes que vi por aí e mostrar como fiz isso de forma que o clube comece com apenas uma pessoa, mas que todas as pessoas que se juntarem posteriormente têm acesso a tudo o que já foi discutido.

E o melhor: a ferramenta em questão é de graça (e não está me pagando para fazer publi, deus me livre, mas quem me dera).

Vamos lá?

Passo a passo para montar um clube do livro

Perigando soar como palestrante motivacional, mas aceitando o risco, o primeiro passo para montar um clube do livro é definir um propósito para essa comunidade. O que, de fato, você quer com ela? Qual tipo de interação e resultado?

Por exemplo: se você quer fazer com que não-leitores desenvolvam o hábito da leitura, não adianta nada começar com as tragédias gregas ou exigir a leitura de uma Ilíada por semana. Não é assim que a banda toca, certo? 

Por outro lado, se o que você quer é montar um grupo de discussão com pessoas que leem o mesmo tanto que respiram, as sugestões e as frequências de leitura podem ser mais ousadas. Contudo, além do propósito da iniciativa, que tem que estar claro desde o princípio, a disponibilidade dos membros e dos administradores também deve ser levada em consideração.

A partir daí, atente-se para:

Número de participantes

A Sociedade literária e a torta de casca de batata, que me deu comichão para criar algo similar, foi um clube do livro com cinco membros. Quantos membros vai ter a sua sociedade literária?

Essa etapa é importante para que você possa desenvolver as estratégias e mediar as discussões. 

Muita gente acha que um clube do livro de sucesso tem milhares de participantes, mas vem cá: será que é fácil moderar milhares de participantes ao mesmo tempo? Aliás, você tem tempo para isso? Lembre-se que quantidade nem sempre é sinônimo de qualidade, ainda que seja bom delimitar um “piso” de participantes.

Quantos são necessários para que uma discussão de fato gere engajamento? Três? Cinco? Doze? Defina o mínimo e o máximo de participantes que você vai dar conta de acompanhar antes de abrir a porteira do seu grupo.

A mediação perfeita

Não é necessário que a pessoa fundadora do clube do livro seja a mediadora do mesmo, ainda que, geralmente, uma coisa leve à outra. O essencial é colocar nesse “cargo” alguém que tenha o compromisso de exercê-lo.

clube do livro

De acordo com os livros do Google, as principais funções de um moderador são:

– Aprovar ou reprovar postagens e comentários (caso o formato utilizado tenha essa possibilidade);

– Criar categorias de discussão;

– Engajar os participantes nos temas das conversas;

– Editar e distribuir informações sobre a comunidade;

– Permitir ou banir novos membros.

As responsabilidades de quem modera o seu clube do livro vão depender do tamanho e do propósito dele. Se for um grupo de cinco pessoas, por exemplo, talvez as conversas fluam sem a presença do moderador. Em grupos maiores, alguém geralmente vai ter que puxar um papo. 

Se, mesmo com vontade de montar uma comunidade, você não se vê nessa posição de moderar, que tal convidar como primeiro membro do clube a pessoa que adora ler e interage sem medo ou timidez nesse tipo de contexto? Fica a reflexão.

Um perfil para o clube do livro

E não estou falando, aqui, de criar perfil em redes sociais, mas definir como o clube do livro será composto para que ele atraia participantes afins ou possa repelir quem não tem nada a ver com o assunto.

Vamos de exemplo, de novo: eu amo romances, ok? Aí, penso em montar um clube do livro para leituras leves desse gênero que sejam escritas por mulheres. Essa já é uma dica para quem está na mesma onda e, também, para quem não liga a mínima para romances, gosta mais de suspenses ou ficção científica.

Poucas coisas são mais desconfortáveis do que estar em uma comunidade apenas para fazer número, para mostrar ao coleguinha que você apoia o que ele faz. É bacana estar presente, mas um clube do livro não funciona só com presença: leitura é um compromisso de longo prazo, que demanda dedicação, e discussão sobre leitura é um outro compromisso em cima desses.

Fazer um clube onde todo mundo fique em silêncio é um monólogo; o que você quer, saiba disso, é um diálogo.

Curadoria de conteúdo é indispensável

Aquela empresa que fez um clube de assinaturas de livros baseada em curadoria de especialistas matou a charada no momento de seu nascimento: não é só falar sobre o que quem funda a comunidade gosta, e sim sobre o que gera mais relação entre a leitura e os membros dessa comunidade.

Ou seja, mesmo que eu crie um clube do livro de romances feministas, não posso trazer só as autoras com as quais me identifico: preciso pesquisar temas, enredos, escritoras e momentos da vida (pessoal ou do mundo) para incentivar sugestões relevantes.

Deixe-me arrancar o band-aid logo: essa não é uma tarefa fácil. Se a gente custa a definir qual é o próximo livro da nossa sequência de leitura, imagina escolher o que um grupo de pessoas vai ler junto! 

Uma dica bacana que achei no site Lendo.Org foi: incentive os membros do clube a dar dois ou três nomes de livros que gostariam de ler, dentro do propósito da comunidade, e faça um revezamento entre eles. Assim, todo mundo fica feliz. 

Esse não é o único método. Você também pode fazer o tema do mês, o escritor do mês… o importante, ao considerar um livro, é:

– Certificar-se de que ele tem a ver com as expectativas do grupo;

– Escolher um que seja acessível gratuitamente ou que todos possam pagar;

– Definir a frequência correta de leitura para cada volume.Achou que o pior tinha passado? Calma, ele ainda está por vir…

Quanto tempo tem o tempo no clube do livro

Ah, você é aquela diferentona barroca que lê um livro de 500 páginas a cada dois dias? Meus parabéns, mas essa não é a realidade do seu clube, a menos que o propósito dele seja a leitura dinâmica – e, talvez, nem assim.

O seu tempo de leitura não deve ser o tempo do grupo. O mais correto é entrar em um consenso com os participantes para a definição da frequência de lidos.

Outra maneira de resolver o impasse é apelando para o bom senso: não é possível que alguém leve 45 dias para ler um livro de 40 páginas, assim como é irracional pedir aos membros do seu clube do livro para ler It – A coisa em 4 dias.

O bom senso também deve compor suas expectativas quanto aos resultados de leitura. Quanto maiores os grupos, mais chances existem de que algumas pessoas não se comprometam a fundo com a leitura proposta. Além disso, mesmo em grupos pequenos, cada qual tem sua rotina e, às vezes, pode ser que o tempo de uma leitura não se encaixe nas atividades de alguém.

E tá tudo bem.

Um clube do livro não pode ficar parado; mas, a menos que você esteja pagando as pessoas para frequentarem seu grupo (espero que não seja esse o caso), também não dá para obrigar a participação ou sentir que a não-participação de fulaninho é uma ofensa pessoal.

Ferramentas para montar um clube do livro na quarentena

O clube da Sociedade literária e a torta de casca de batata tem o formato mais incrível da vida: cada um lê seu livro e todas as sextas um dos membros faz uma leitura de um capítulo dele e traz a discussão do tema à baila. Assim, a curadoria fica a cargo de cada integrante, responsável por finalizar a leitura até o dia da sua apresentação.

Depois da apresentação, a discussão rola solta com comida, bebida e risadas. O único motivo pelo qual esse clube do livro não era sem defeitos foi sua época: ocorreu no meio da segunda guerra mundial, sob a égide da ocupação nazista em território inglês. Nesse caso, em específico, montar um clube do livro era uma forma de salvar vidas.

Leia o livro/veja o filme para mais imersões desse tipo.

Mas, de 2020 adiante, colocar pessoas no mesmo ambiente pode não ser a melhor ideia… então, usar as ferramentas gratuitas que temos à disposição é a forma mais simples de começar. Antes feito que perfeito, né?

Para “encontros virtuais presenciais”, as salas de teleconferência operam como principais alternativas. Eu já usei (para outros fins) o Meet, do Google, o Whereby e o Zoom. Cada sala tem seus prós e contras e é mais fácil você testar cada uma delas do que eu ficar elencando as características aqui.

Afinal, é muito uma questão de feeling, também. A que eu mais gosto pode parecer impraticável na sua ótica.

Telegram x WhatsApp nos clubinhos

Para grupos de discussão com atividade diária, em texto e áudio, o Telegram é bem legal. Muita gente ainda não usa (eu fiz um clube do meu livro por lá e floppou), mas existem duas vantagens dessa ferramenta gratuita em relação ao WhatsApp:

– O limite de membros é muito alto (tipo cem mil ou algo do tipo, não que queiramos ou chegaremos lá);

– Todas as mensagens trocadas no passado aparecem para as pessoas que entraram no grupo hoje. 

Ou seja, existe um histórico de discussões do clube do livro acessível a todos os participantes, independente da data de entrada de cada um. Para organizar esse rolê, uma dica é fazer um PDF, áudio ou vídeo de cada tema já tratado, como um resumão.

Assim, os novos membros conseguem se atualizar rapidamente e não perdem o tempo da discussão atual em buscas infindáveis das conversas passadas.

O Literama vai montar um clube do livro?

Pretendo, brevemente. Fiquei com muita vontade depois do filme da Sociedade Literária. Mas, para isso, preciso de tempo de moderação – já tenho um propósito, uma frequência e várias sugestões de leitura! (Não necessariamente romances…)

Até lá, deixe aqui nos comentários a indicação do seu clube do livro ou o que te faria participar de algum – especialmente do nosso.

Me conte se essas dicas te ajudaram ou deixaram o rolê ainda mais confuso (espero que não!) e, se já estiver lendo Teoria do Amor e quiser entrar no nosso grupo de WhatsApp, é só me avisar que te mando o link!

Obrigada por ler até aqui e até a próxima!

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