O amor nos tempos do cólera

Em 2014, conheci a primeira colombiana da minha vida (Shakira não conta). O nome dela é América e ela sempre me tratou muito bem, desde o primeiro dia. A julgar pela minha amiga Victoria, a segunda colombiana que virou minha amiga – e madrinha de casamento –, tratar as pessoas com amor, respeito e verdade é uma característica da Colômbia.

América abriu minhas portas para ter certeza que esses valores também estão presentes na literatura, ao me dar, em 2015, um exemplar de O amor nos tempos do cólera, de Gabriel García Marquez. O escritor colombiano ganhou o Nobel de Literatura em 1982 pelo conjunto da obra, mas eu ainda não a conhecia. Que bom que, dentro da América, tinha uma América destinada a mim.

Não imagino minha vida sem o contato com essa leitura.

O amor nos tempos de cólera tem ares de romance histórico. Marquez narra a história de amor de Florentino Ariza e Fermina Daza, que começou ainda na juventude. O livro, no entanto, começa com a recente viuvez de Fermina que, já idosa, recebe uma carta de pesar de Florentino pelo falecimento do marido, o médico Juvenal Urbino.

A trama fotografa as passagens da história da Colômbia enquanto tenta provar um ponto: o verdadeiro amor sobrevive até quando não pode ser mais vivido. Ou será que, para as questões do coração, nunca é tarde demais?

Gabriel García Marquez também passa pela fragilidade da vida – a forma como Juvenal Urbino morre, no início da saga, deixa isso bem claro –, dos sentimentos e das escolhas. Não é uma leitura fácil. Os parágrafos chegam a ter mais de uma página de duração, as frases podem ter o mesmo tamanho. Mas é um romance que vale a pena ser lido. E também relido. Já está na minha lista de #novamentes. 😉

Embora traga em suas páginas a necessidade de uma bagagem literária imediata, típica dos livros escritos por um Nobel de Literatura, O amor nos tempos do cólera é uma leitura leve. Tem poucos personagens e uma cadência que nos deixa vidrados, esperando o que vai acontecer na próxima página. Além disso, traz uma descrição tão delicada que a gente consegue se transportar pra dentro da história, imaginando direitinho cada cena.

Gabriel foi embora em 2014, mas não nos deixou órfãos. Esse é apenas o primeiro livro dos que pavimentaram meu caminho até ele, e sugiro que seja também o seu primeiro. Passar pela vida sem ler esse colombiano é como passar por ela sem ter amizades colombianas: você pode não saber mas, sem a Colômbia, a existência fica um pouquinho vazia.

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