Dicas para escrever mais e melhor

Em 2015, publiquei no meu perfil do Medium um artigo com dicas para que pessoas que quisessem escrever para internet – atividade que paga minhas contas – pudessem fazer isso mais rápido e melhor. Minha preocupação, à época, era a mesma que tenho hoje: a internet anda meio chata, você não acha?

Toda vez que vamos buscar algo no Google, encontramos milhões de resultados em um espaço curtíssimo de tempo. Mesmo assim, muitas vezes, não nos contentamos com aquilo que achamos. A frustração pode ser causada por vários fatores, mas bato o pé quando digo que um dos principais é a chatice da internet, esse ar blasé com que somos brindados cada vez que abrimos a porta para um site novo.

Desde então, me dediquei a dar cursos de escrita criativa para internet e conversei sobre isso com diversas pessoas que também estavam em busca de um ambiente melhor pra todo mundo.

Se você quer escrever, seja para o mercado editorial ou para a internet, leia esse texto até o fim. Atualizei a versão para o Literama depois de quatro anos no ar e espero que ele possa te ajudar a descobrir novas formas de desenvolver a mais antiga das habilidades humanas: a comunicação.

O conteúdo sempre foi importante na vida digital, mas, de uns anos pra cá, pessoas e empresas se deram conta de que ele é a alma da internet, inclusive para os negócios online. Sua evidência nos mostrou que é preciso escrever coisas atraentes para que empresas e marcas se destaquem no mundo vasto e sem porteiras que é essa tal de interwebs.

Acontece que, na contramão da demanda, a oferta anda fraca.

A redação, publicitária ou jornalística, nunca foi a pauta (com o perdão do trocadilho) mais valorizada das agências. A negligência pelo profissional que escreve é tão palpável que isso acabou afastando dos cadernos (e do Word) pessoas que poderiam, realmente, fazer a diferença.

Hoje temos um déficit absurdo de bons escritores — sim, escritores — dentro do mercado de marketing digital.

Empresas especializadas ganham aportes significativos para prestar o serviço, grandes agências criam setores específicos para redação e, mesmo assim, a qualidade do que é publicado em sites, blogs e redes sociais está muito aquém do que prevíamos quando, em algum momento da trajetória, pensamos entender o suficiente de escrita para ousar oferecer redação nos pacotes de marketing.

Se não acordarmos para a importância desse profissional, pagaremos muito caro.

Sei de cadeira o que é lutar pelo reconhecimento do que se escreve. Em meados de 2011, quando comecei a me envolver com conteúdo digital, pegava freelas que me pagavam R$2 por texto. E, mesmo ganhando pouco, despendia tempo para que o conteúdo do cliente fosse de qualidade. Lembro que chegava em casa cansada do meu trabalho oficial mas, mesmo assim, abria o computador, pesquisava e escrevia. A dois reais por texto.

Foi assim que comecei meu caminho em conteúdo digital e, de lá pra cá, acabei virando a pessoa para quem outras pessoas perguntam o que fazer com seus conteúdos . E, principalmente, se tenho gente para indicar para freela.

Fazer esse tipo de indicação está cada vez mais raro. Trabalhei com dezenas de pessoas que não entregavam qualidade nos serviços que prestavam. A culpa não era só delas: é de um mercado que aceita qualquer coisa, porque o que vale é o clique.

Na Chá de Conteúdo, empresa de comunicação digital que abri com a Cinthia em 2014, meu trabalho é escrever. São nove, dez horas por dia de escrita, de pesquisa, uma maratona que, de vez em quando, pede pausas para que o cérebro não frite. Criação tem disso: você não será produtivo o dia todo, o tempo todo, e talvez tenha que tirar uma folga, senão o fantasma da falta de qualidade sopra o seu pescoço.

Escrever não é fácil. Não é barato. Mas como diria o Laranja, um super profissional da área, eu acredito no conteúdo. Se você também acredita, tomo a liberdade de te dar três dicas básicas para ser melhor no que faz.

Não são dicas surpreendentes, não são “segredos da escrita”, não é nada que vá fazer você ficar milionário em três meses. Mas pode fazer você ficar milionário com muito trabalho pelos próximos anos . Se isso não acontecer, pelo menos você se diverte no processo. Isso eu posso te garantir que acontece.

Leia muito. Nunca pare.

Sou leitora compulsiva. Quando falo para as pessoas que minha média anual de leitura é de 40 livros, muita gente faz cara de espanto. No fundo, eu é que me espanto com o pouco que as pessoas leem:  a média de leitura anual do brasileiro é de 4 livros!

Cada um faz o que quer da vida. Às vezes a pessoa não gosta de ler e pronto. Mas é inadmissível que um profissional que se diga redator leia pouco, porque só se aprende a escrever lendo — e isso eu aprendi lá no pré, quando tinha seis anos e fui alfabetizada através de uma cartilha chamada O Sonho de Talita. Não adianta fazer cursinho de português: isso ajuda, mas só vai te clarear o que é um aposto ou onde entra ou sai uma vírgula.

Sem ler, o que quer que seja, um escritor nunca será capaz de escrever de verdade.

Assim como dublador tem que ser ator para entender a emoção que coloca na voz do personagem, todo escritor tem que ser, primeiro, leitor. Acredite: se você não se dedicar a ser leitor, passará a vida entregando redação meia boca  e recebendo um pagamento meia boca por isso.

Escreva todos os dias 

Separe um tempo no seu dia, em um lugar tranquilo, e escreva. Nessa hora, pode sair qualquer coisa: uma nota, um texto opinativo, a nova página daquele romance que não ganha novos ares há dias. Escreva pelo menos um pouquinho. Isso vai te ajudar a flexibilizar suas ideias e a criar roteiros para a escrita.

Estou há anos desenvolvendo algumas histórias que, um dia, pretendo publicar. Às vezes elas ficam dias sem ter novos capítulos, porque mexo aqui e ali em coisas que eu já escrevi e mudei de ideia. Outras vezes, quando um cliente pede um e-book sobre o sexo das baleias, eu pesquiso e escrevo em tempo recorde: em três dias o negócio está pronto.

Tá vendo como o tempo é relativo? Mas é por causa desse pouquinho que se escreve todos os dias, por conta própria, que um job pode ser desenvolvido em questão de minutos, principalmente quando ele é urgente e inadiável. Quando você se habituou a olhar para uma tela branca de Word e, todo dia, tentar juntar algumas palavras nela, fica menos dolorido escrever sob pressão.

Tenha mentores

Não adianta escrever pra você achar bonito, porque você já está conquistado por si mesmo. Por isso, alguém de fora tem que ler e validar o que você acha que ficou muito legal.

Geralmente a gente se espelha em likes para medir o sucesso da nossa escrita. Isso é legal, é uma reação pública a algo que você expôs, mas não pare por aí: o botão das redes sociais é muito vago. Peça a profissionais para ler o que você desenvolve, de vez em quando, e avaliar a qualidade da sua redação.

Não estamos falando em procurar o “guru da escrita”, nem abordar o George R. R. Martin e pedir dicas: estamos falando em chamar qquela pessoa que você sabe que entende de escrita que dê uma olhada no texto e que, por favor, não jogue confetes. Que ela critique, que acabe com o texto, que mostre as falhas quando elas existirem.

Um detalhe é importante: não se ofenda com feedbacks negativos.

Lembro de um dia em que uma das melhores chefes que eu tive na vida jogou literalmente no lixo uma matéria que eu tinha feito para a rádioEla embolou o papel, jogou fora, bradou “ficou uma merda, faz de novo!”, e eu fui lá fazer de novo.

E de novo.

E de novo.

Algo entre a quarta e quinta tentativa deu certo.

Hoje, peço aos meus professores e colegas de trabalho que leiam o que tenho escrito, além de representantes do público-alvo. Se penso em fazer algo voltado para mulheres, por exemplo, peço o tempo de algumas amigas para que possam ler e criticar. Estou sempre disposta a abraçar o fracasso de um “ficou uma merda, faz de novo” sem levar para o lado pessoal.

Fico feliz quando um cliente diz que o texto que fiz ficou adorável, deu resultado, levou um tráfego considerável a um blog ou site, ou até quando fala que o resultado não veio, porque aí a gente readapta e tenta de novo. Aprendi que escrever é um processo doloroso, solitário, porém divertido; pode ser cansativo, mas o esforço tem grandes chances de ser recompensado.

As dicas que eu te dei aqui são isso: apenas dicas.

Um pouco do que aprendo constantemente ao escrever para o mercado publicitário, jornalístico ou editorial. Elas foram originalmente escritas para o pessoal do marketing de conteúdo, mas também podem ser úteis a quem não quer escrever só para a internet.

Por isso, se quiser trocar mais alguma ideia sobre isso, ou quiser que eu leia – e dê feedback – nas coisas que você anda escrevendo, manda um e-mail pra mim.

Como leitora compulsiva, vou adorar ler. 😉

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