Resenha: História do novo sobrenome

Por Viviane Fontes

Dando continuidade à tetralogia napolitana mais legal do universo, vamos falar, hoje, sobre a História do novo sobrenome. Antes de continuar com a leitura, lembre-se que esse artigo é uma

Ao fim do primeiro livro da série napolitana, do qual já falamos aqui, Elena Ferrante deixa a impressão que as protagonistas da história teriam destinos muito diferentes. Lila teria uma vida confortável ao lado do marido, o oposto do que vivera até então, enquanto Lenu continuaria a viver no velho bairro, com dificuldades para terminar o liceu e sem perspectivas de mudar o destino.

Nas mais de 400 páginas do segundo livro, História do novo sobrenome, dois fatos contados por Lenu mostram como eles acabaram interferindo nessa controversa amizade. No primeiro, quando vai a uma festa na casa de uma professora, acompanhada de Lila, ela deixa claro como a um mundo totalmente diferente do que o qual onde elas cresceram e viveram incomodou Lina.

Diante dos comentários maldosos de Lila, ela se sentiu, pela primeira vez, superior à amiga. Sentia-se à vontade em meio às conversas acadêmicas, discussões políticas e sociais… aquilo também fazia parte do seu mundo e a distanciava das fofocas, brigas e intrigas do velho bairro onde nasceu.

Ao contrário: Rafaella ficou sem lugar, sem palavras. Seu brilho, que tomava conta do ambiente onde vivia e causava algum tipo de incômodo a todos, ali não existiu. 

O segundo episódio, que mudara profundamente a relação, foram as férias que passaram juntas em Ischia. A convivência entre as amigas e todos ao redor delas, os encontros e desencontros com pessoas do passado, transformaram profundamente Lenu.

Para Lilas e Lenus da vida real

Em História do novo sobrenome, Ferrante mostra as agruras vividas por duas meninas que se tornam mulheres em Nápoles, mas que representam milhares em qualquer parte do mundo.

De maneira visceral, com paixão e emoção, a escritora narra fatos cotidianos da vida de qualquer pessoa, desses que passariam despercebidos para a maioria de nós. Contudo, com um texto primoroso, é inevitável não se render e prestar atenção na vida dessas meninas. 

É impossível não reconhecer, nas duas personagens, características nossas ou de alguém que conhecemos. Lenu se descreve de uma forma que poucas pessoas conseguem. Ela compartilha sentimentos e pensamentos que normalmente temos dificuldades de reconhecer para nós mesmos, inclusive depois de anos de terapia.

Amor, inveja, insegurança, medo, desprezo, sensações que temos pelos outros e por nós, tudo isso está na vida de Greco.

Já Lila carrega em si, sempre através do olhar da amiga, características como segurança, indiferença, pragmatismo, desapego, destruição. “Caos” é, para mim, a palavra que define Lila. Ela é como um furacão na vida das pessoas, alguém que não se apega e apenas vive o momento, não perde tempo lamentando e chorando o que já passou. 

A História do novo sobrenome começa com um sumiço

Nessa narrativa observamos que as vidas das amigas vão para caminhos completamente opostos. Se no livro A amiga genial a autora insinua que Lila era uma estrela que brilharia mais que todos os complexos personagens apresentados na trama, em A história do novo sobrenome é Lenu quem consegue mudar a realidade de pobreza na qual cresceram.

O que de fato fica muito claro, ao fim do livro, é que Lila, desde sempre, pensou em sumir nesse mundão de Deus, sem deixar vestígios – o que acontece no primeiro livro da tetralogia e nos guia por essa aventura deliciosa.

Como saber o que Elena Ferrante reserva nos próximos livros da série? São tantas as possibilidades para essas mulheres…

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