Menina má e a nascente do mal

Nascemos inocentes ou já viemos corrompidos?

Esperei o momento certo para ler Menina Má, de William March, e a experiência foi um deleite. Em três dias terminei a obra – foi uma das maratonas bem-sucedidas que fiz esse ano, já que nem todo livro que leio rápido eu gosto.

Esse eu adorei.

Em linhas gerais, Menina má conta a história de Rhoda Penmark, uma garotinha de oito anos que está muito chateada por não ter ganho uma medalha de caligrafia na escola, premiação que ficou com o colega Claude Daigle. Ela não esconde a frustração e, quando a estimulam a parabenizá-lo, Rhoda se nega, dizendo: “não estou feliz que ele ganhou. Essa medalha é minha”.

Até aí, tudo bem; aprender com as frustrações é algo que nos toma tempo, e crianças são naturalmente muito mais sinceras do que os adultos em relação a seus sentimentos.

O problema, como a narrativa vai mostrar desse episódio para frente, é que Rhoda não tem nenhum sentimento. O que parece ser frustração é, na verdade, a demonstração de seu auto centrismo. Ela precisa ter o que quer, do jeito dela, e nada diferente disso é aceitável para a criança. 

Resenha (sem spoilers) de Menina má

Quem começa a notar que existe algo de errado na personalidade da menina é sua mãe, Christine Penmark, que a cria sozinha enquanto o marido viaja a trabalho. Ela tem a companhia de duas vizinhas que a adoram e idolatram Rhoda e, no prédio em que mora, precisa ficar de olho no zelador, Leroy Jessup, que tem como hobby implicar com a garotinha.

Ele é o único que diz, na cara dela, que ela não o engana – e tenta descobrir, de todo jeito, o que ela fez de errado, para que possa, assim, suborná-la. 

Enquanto pensa no que fazer a respeito do comportamento de Rhoda, Christine busca informações em jornais que acabam desvendando verdades ocultas sobre seu próprio passado. Narrada em terceira pessoa, a história das descobertas da mãe e das atitudes da filha trazem a reflexão sobre quem, de fato, é a menina má – e qual é a origem do mal, por assim dizer.

William March escreve um enredo apavorante e corajoso. Colocar uma criança charmosa e aparentemente inocente no centro da discussão sobre psicopatia é algo que não se vê por aí todo dia, e talvez seja exatamente isso que transformou o livro, de 1954, em um clássico.

Tido como um grande sucesso de escrita refinada por Ernest Hemingway e uma obra que “muda tudo” por Lady Gaga, Menina má foi o livro de maior repercussão do autor, que passou por severos colapsos nervosos durante a vida. Ele não chegou, contudo, a aproveitar a boa fase, morrendo de ataque cardíaco apenas um mês após a publicação de sua obra-prima. 

Menina má para ler e ver

O livro com edição da Darkside Books (clique aqui para comprar pela Amazon) é, como todas as obras dessa editora, magnífico. Lindo de viver, já começa a nos assustar pela capa! É o volume que recomendo para a melhor experiência de leitura (e, não, não estou ganhando nada da Darkside pra falar isso! Sou fã mesmo!).

Já quem quer “esperar até virar filme” não precisa fazer isso, pois o filme The Bad Seed (que no Brasil recebe o título de A Tara Maldita) foi feito, em preto e branco, apenas dois anos após a publicação do livro, trazendo uma assustadora Patty McCormack, então com 11 anos, no convincente papel principal.

Antes de sair…

… não se esqueça de seguir o Lite no Instagram e, se curtir romance, conferir meu livro, Teoria do Amor, que está no Wattpad (gratuitamente!).

Beijos e até a próxima!

Deixe um comentário

Assine a newsletter!

Deixe seu e-mail e você receberá o Literama em sua caixa de entrada!