O que aprendi com o burnout

Em maio desse ano, passei o maior aperto. Cheguei a um nível de cansaço físico e mental que acabei virando estatística ao parar no hospital e ser diagnosticada com famoso burnout, ou síndrome do esgotamento.

Trabalho escrevendo, e o primeiro sintoma que me chamou a atenção foi um formigamento indecente nos braços e dor nos ombros, me impedindo, momentaneamente, de digitar no computador. A caminho do atendimento médico, meus dedos começaram a ficar travados.

Em outras palavras, meus nervos estavam me forçando a parar de trabalhar a qualquer custo, porque meu sistema não estava mais dando conta. Pesquisando sobre a doença, vi que o burnout geralmente atinge as partes do corpo ligadas ao trabalho das pessoas. Uma amiga fotógrafa me relatou ter ficado cega por alguns minutos em seu episódio pessoa.

Infelizmente, a condição tem se tornado cada vez mais comum. As pessoas se cobram demais, cobram demais de suas tarefas e possibilidades, sem levar em consideração a importância de se estabelecer uma rotina de trabalho que respeite as limitações.

Aliás, a primeira grande lição que aprendi com o burnout foi que, por mais eficaz que eu me considere, sou cheia de limitações. E, para diminui-las, precisava começar a dizer “não”. Quem trabalha por conta própria, como eu, tem uma certa dificuldade com essa palavrinha. Mas, agitada em um hospital, esperando por um ecocardiograma, minha ficha caiu: ou eu faço as pazes com meus limites ou vou passar uma grande parte da vida achando que estou morrendo.

Com esse, vem o segundo aprendizado. Estabelecer rotinas, prazos e metas para cada projeto é uma forma de fazer seu corpo entender que existe um ponto a ser conquistado, mas não a qualquer custo.

Nos últimos anos, vi itens como café e energético serem incensados por milionários-to-be como o elixir da produtividade, mas aprendi com os exemplos que me cercam que não é porque seus olhos estão abertos que sua cabeça não está cansada.

Um cérebro exausto pode até produzir, mas criar… aí, a história é bem diferente.

Respeite sua rotina!

Adoro ler biografias. Uma característica em comum nas que já li sobre personalidades que realizaram grandes feitos, como Da Vinci, Einstein, Darwin, Steve Jobs e Eric Clapton é que, em algum nível de comprometimento, todos tinham rotinas.

Por um descuido da humanidade, “rotina” virou sinônimo de chato, monótono, enquanto deveria ser, simplesmente, o que realmente significa: a organização da agenda em camadas repetidas.

É indispensável tirar rótulos ruins da palavra e perceber o quanto vale ter uma rotina baseada na criatividade, principalmente se você se apoiar em hábitos de pessoas que tem as mesmas 24 horas do dia que você tem e que, ainda assim, receberam o título de gênios.

Aqui, vale um parêntese: a palavra “criatividade” é um pouco mais pretensiosa que a palavra “produtividade”, porque produzir é fazer e criar é, bem, criar. Ser dono de uma criação, hoje em dia, é pra poucos. Mas não é impossível. Quem sonha grande precisa estar disposto a criar, além de “apenas” produzir.

Essa mesma palavra foi, durante anos, ligada a artistas por serem eles os mais propensos a criar. Definir quem é e quem não é artista, por outro lado, é algo subjetivo. Tudo depende de como você vê as coisas: se artista é só celebridade ou se cientistas, por exemplo, também são artistas.

Lembrança da primeira vez que ganhei pulseirinha amarela no pronto-atendimento.

No fim, não importa mais esse rótulo, uma vez que todos nós somos capazes de imaginar e criar coisas.

A rotina criativa funciona assim: você divide seus dias em rotinas de trabalho que levam em consideração o acordar, o tomar café, o trabalhar, o descansar, o comer e o se divertir. Quando respeita o horário de todas as coisas, você consegue ser produtivo e criativo ao mesmo tempo, porque repete rotinas de curto prazo olhando sempre para o longo prazo.

Uma pessoa que não estabelece rotinas pode incorrer em dois erros crassos que acabam com o bom trabalho de qualquer um:

#1 – Uma agenda completamente bagunçada, sem início ou fim de nada;

#2 – Esgotamento máximo, sem saber mais o que é trabalho e o que é descanso.

Existe gente que consegue lidar numa boa com o erro #1, mas o #2 é um grande impeditivo para o trabalho do escritor, uma vez que o tira completamente do foco e pode levar a doenças graves, como estafa e depressão.

Para que nenhum desses erros te assombre, pare de ter medo da palavra rotina. Leve em consideração o horário de acordar, de comer, de se exercitar, de tomar banho e encaixe seu trabalho nos intervalos dessas atividades, sem querer dar um passo maior que a perna.

O contrário disso é um corpo cansado e uma mente esgotada, ainda que você tome dezoito litros de café por dia ou tenha metas ousadas para ganhar seu primeiro milhão no mercado literário.

É aquela velha máxima: não viva para trabalhar; trabalhe para viver. E, quanto mais quiser ser criativo, menos se ocupe. O livro Roube como um artista traz uma boa reflexão sobre isso:

Uma vez escutei um colega de trabalho dizer: ‘quando fico ocupado, fico idiota’. Totalmente de acordo. Pessoas criativas precisam de tempo para sentar e não fazer nada”.

Compartilho esses insights pós-burnout é porque defendo que não é preciso que você passe por isso para entender o quanto é preciso estar atento à sua saúde mental antes de começar um grande projeto. Há algo no sucesso das empreitadas que tem muito a ver com saber o tempo das coisas e nosso limite dentro de cada atividade.

Mesmo porque – e essa foi a principal lição que o burnout me ensinou –, se você não tiver energia, ficará doente dentro de pouco tempo; e a dura verdade é que ninguém consegue produzir nadinha se estiver morto.

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