Quem você seria se não fosse você?

Você já parou pra pensar em quem você seria se você não existisse? Ou se pudesse escolher alguém para ser, no meio dessa multidão de gente que já passou – e continua passando – pelo planeta?

De vez em quando me pego pensando nisso e sempre chego à mesma conclusão: eu poderia ser um monte de pessoas, desde que não soubesse da minha versão atual. Funciona assim: eu, Laís, só escolheria mudar de corpo e/ou personalidade se fosse absolutamente certo que eu não me lembraria de quem eu sou agora. Tipo Brilho eterno de uma mente sem lembranças, sabe? Caso contrário, sentiria a maior saudade de mim.

Hoje esse pensamento surgiu após ouvir de uma figura que muito admiro o que sempre falei para mim mesma: “você é a nova Marian Keyes”. Modéstia às favas, acho que o título seria merecido e eu estaria à altura dele. Depois do elogio escrachado, pensei em como vive a Marian Keyes de verdade, tudo o que ela já produziu e produz, o país em que mora, a vida que leva (e que sigo superficialmente pelas redes sociais). Nada de riqueza ostentação, nada de filmes milionários adaptados de seus livros, mas uma imaginação sempre ativa e operante.

Eu seria uma ótima Marian, se não fosse uma excelente Laís.

O Danilo, meu marido, contribuiu sem querer para a filosofia do dia. Quando eu disse que, nas próximas eleições, teria que esperar para ver se Manu D’Ávila sairia como cabeça de chapa – se sim, meu voto é dela – para definir minha escolha, ele me disse que, a partir de agora, só vai votar em Fernando Haddad.

– Voto nele até para miss Brasil – foi o que ele disse.

– Mas isso é horrível! Você vai estar colocando um homem no holofote de uma mulher.

– Pra você ver como eu acho que ele é preparado. Se Haddad concorresse para ser Manu, eu votava nele. Se concorresse para ser eu, eu votava nele. Fernando Haddad seria um melhor Danilo que eu.

Conversa sem pé nem cabeça, mas, salvas as devidas proporções – e ironias, não custa nada lembrar –, me fez pensar em quem seria uma eu melhor do que eu. Engraçado como a gente se apega a quem a gente é: por mais que eu ache que me daria super bem sendo, sei lá, Natalie Portman, ou Gisele Bündchen, ou Barack Obama, não consigo ver ninguém sendo uma Laís mais interessante que eu. Li o que li, escrevi o que escrevi, fiz o que fiz e tudo isso moldou o que sou, e continua moldando, dia após dia.

Então, para que eu pudesse trocar de corpo com qualquer outra pessoa dessa Terra – que é redondinha –, precisaria, primeiro, não me lembrar de quem eu sou. Senão, repito, sentiria a maior saudade de mim.

Vou ficar felizona, no entanto, se no futuro próxima eu for comparada aos nomes geniais que coloco no altar da vida tentando me construir. Ser chamada de “a nova Marian Keyes”, a “Tina Fey brasileira”, a “Hemingway de saias” vai ser como fincar medalhas de competência no meu modesto currículo de escritora wannabe. Então, se um dia você quiser me comparar com qualquer outra pessoa no mundo, faça isso. Me soará como elogio.

Por outro lado, enquanto eu for eu e me lembrar de quem sou, vou tentar trilhar caminhos que orgulhem meus ídolos, mas não me limitem a elas e eles. Não quero ser uma cópia; quero, apenas, ser tão boa quanto. Melhor, quem sabe. O melhor a se fazer é sempre mirar as estrelas e tentar acertá-las. Como Simone Biles disse, quando perguntada se ela era o Michael Phelps da ginástica,

não, eu sou a Simone da ginástica”.

Taí uma coisa que eu nunca conseguiria passar nem perto de ser: Simone Biles. Não consigo sonhar em viver dando piruetas em cima de um pedaço de madeira. Sou muito cagona pra isso.

Mas ser Jimmy Fallon eu conseguiria. Justin Bieber também. Seria fácil ser qualquer outra pessoa se eu não me lembrasse da minha própria existência – que, por mais insignificante ou absurda que seja, ainda me parece a melhor de todas.

(Eu te disse, a gente se apega.)

3 Comentários
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    Paty at 3 de abril de 2019 Responder

    Você é demais, gente! Adorei a citação indireta aí no texto, hahah! Obrigada por compartilhar o que pensa, te proíbo (olha eu) de algum dia achar que você não faz diferença no dia das pessoas. Estava aqui trabalhando mas pausei tudo porque eu sabia que valeria a pena ver o que você escreveu. Te ler é um descanso na doideira, é aquela dose de leveza no meio da correria. Te admiro muito e não tô nem aí se pareço uma doida de tanto elogiar. Sou fã e assumo. E que bom que você é e continuará sendo a Laís bem-humorada que eu conheci (e que, a cada leitura, cada vez gosto mais de conhecer). Esse texto me fez pensar que eu também (modéstia pra quê né) sentiria saudades de mim, hahah! É lindo ser quem se é. Beijo grande! <3

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    Lais Agostini at 3 de abril de 2019 Responder

    Tá coberta de razão!
    Deve ser uma delícia mesmo ser você!
    ♥️

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