Como Uma vida para sempre me ensinou a sentir dor

Por Madu Carvalho

Antes de falar de Uma vida para sempre, vamos falar sobre algumas experiências que a gente tem na vida finita.

Quem já teve a oportunidade de ir à Bienal do Livro do Rio de Janeiro sabe como a feira funciona. É um lugar gigantesco. Antes de ir, há quatro anos, eu não conseguia nem imaginar que podia existir algo tão grande assim. Sou de uma cidade muito pequena, do interior de Minas Gerais, e tudo para mim é novidade. 

Minha experiência na Bienal se resume em “correria”. Como eu disse, é um lugar enorme, dividido em vários pavilhões, e eu tinha só um dia para visitar tudo. 

No fim do passeio, enquanto me preparava para sair, me deparei com um estande cujo nome não me ocorre agora. Nem sei se ele tinha um, mas, nele, encontrei uma placa que dizia: 

livros por 5 reais.

Sei que sou muito míope, mas… um livro por 5 reais?! É muito bom para ser verdade. Mas era. Lá estavam eles, a cinco reais.

Um livro, em especial, me chamou atenção – inicialmente, pela capa, já que nunca tinha ouvido falar sobre ele. Li a sinopse e percebi que, aos poucos, ele estava me conquistando. 

Comprei.

A obra em questão se chama Uma vida para sempre. Trata-se de uma leitura tão boa que nem percebi como eu o devorei rápido. 

Como começa Uma vida para sempre

O livro conta a história de Ethel, uma jovem de dezessete anos nascida com CIPA (Insensibilidade Congênita à Dor com Anidrose). Essa anomalia faz com que ela não sinta dor física. Ou seja, se ela corta o dedo enquanto estiver fazendo uma salada, não vai sentir dor. 

Ethel mora com a mãe, que é professora e, devido à condição da filha, super protetora. Por isso, a menina estuda em casa, não costuma brincar com os amigos ou ir para os rolês, o que faz com que seu único ciclo social esteja, no hospital que frequenta. 

Quem disse que não se pode fazer ótimos amigos em hospitais? 

Um desses amigos é Vitor, garoto diagnosticado com Leucemia Mieloide Aguda, que está em processo de tratamento. Diferente da Ethel, que se prepara a todo momento para a morte, Vitor é otimista. 

A narrativa se entrelaça no desenvolver dessa amizade, dos dias no hospital e encontros e desencontros que esse ambiente proporciona. Uma coisa é constante: as relações firmadas os fortalecem, dando esperança a quem mais precisa dela.

A dor é inevitável(?)

Simone Taietti, a autora do livro, faz pensar sobre inúmeras coisas da vida. Pra mim, as reflexões vieram depois de várias vezes que reli o livro, já que quando o comprei tinha 14 anos – e, quanto mais velha a gente fica, mais gosta de pensar sobre a vida.

Para mim, a mensagem principal desse livro é que, às vezes, não vemos utilidade na dor. Sentir dor é ruim, ninguém quer sofrer com ela. Contudo, é a dor que nos deixa vivos: nos traz ensinamentos, emocionais ou físicos, para entender o que podemos ou não fazer. 

Em Uma vida para sempre o leitor também tem a chance de pensar sobre a morte. O que seremos depois desta vida? Iremos para algum lugar ou, simplesmente, acabou? 

O que quer que seja, não nos cabe decidir. Dona Morte virá nos prestar uma visitinha qualquer dia, e quando ela entra pela porta, só existe a dúvida. Como será? Quando? 

Ao gastar nosso tempo fazendo as mesmas perguntas sem resposta, nos esquecemos que estamos aqui, agora. Podemos respirar. Podemos sentir o vento bater de leve no rosto. Podemos comer a nossa fruta preferida e tomar uma xícara de café. 

Até a morte chegar, que o podemos fazer, então? 

Depois de ler Uma vida para sempre, acho que aproveitar é a melhor, e mais correta, resposta. 

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