Vale a pena participar de cursos de escrita?

Desde que o marketing de conteúdo virou uma coisa oficial, profissão e tudo mais, vários cursos sobre a área surgiram por aí. Eu mesma montei um em 2016 que continua fechando turmas até hoje.

Acredito que, com as ferramentas certas – muitas delas vem do “jornalismo clássico” – e foco no aprendizado, muita gente que tem uma escrita “ok” pode, sim, virar copywriter ou qualquer outro nominho que hoje as pessoas dão a esse tipo de profissional.

A profissionalização pode vir de duas formas:

  1. pelo modelo autodidata, em que a pessoa estuda por conta própria e aprende dentro de sua própria metodologia de aprendizado;
  2. pelo investimento em cursos ministrado por pessoas que conseguiram criar uma metodologia de ensino para essa finalidade.

Até aí, tudo muito bom, certo? Estamos falando de um retorno quase imediato ao investimento. Afinal, existem inúmeros sites e empresas que pagam por textos com a aplicação das técnicas do marketing.

Mas e quando os cursos de escrita são voltados para quem deseja ser escritor, e não copywriter? Para quem quer soltar a criatividade e desbloquear canais mentais que vão dar vazão a novas narrativas e projetos?

Nesse caso, a participação em cursos de escrita é muito subjetiva. Quase uma questão de valores pessoais.

Quando falamos em investir em cursos de escrita criativa, e até de escrita literária, estamos olhando mais pra dentro do que pra fora. O que a o curso propõe nos afeta positivamente? Há aprendizado ou imersão real no dia de atividades ofertado? É possível desenvolver a habilidade de criação através dos cursos online?

As perguntas que a gente se faz quando está frente a um formulário de inscrição de cursos, oficinas ou workshops para escritores vão nos levar a dois caminhos: ou à economia ou à realização.

Não há meio termo.

Cursos profissionalizantes, geralmente, trazem alguma novidade, algo que não sabemos sobre aquilo em que tentamos nos especializar. Mas cursos de criatividade, para literatura ou qualquer outra área, dependem mais do agente participante e de seus objetivos do que, de fato, da “ementa”.

Se você está procurando uma oficina de desenvolvimento de personagens e vai parar em um curso de produção editorial de livros, ou a culpa é do mentor, que não soube fazer a propaganda da forma adequada, ou a culpa é sua. Sim, supere: nem sempre escolhemos as melhores opções onde colocar nosso suado dinheirinho.

Se você tem dúvidas sobre orçamento, economia e como fazer com que suas escolhas não te deem prejuízos financeiros, a primeira resenha desse blog é de um livro que vai te ajudar bastante.

Se você tem dúvidas sobre qual curso/workshop/oficina de escrita criativa pode ser mais efetivo para seus sonhos de se tornar escritor/a ou leitor/a ativa, continue lendo esse artigo.

Faça mais o que te faz feliz

O livro Sobre a Escrita, de Stephen King, mudou minha perspectiva de atuação como pessoa que oferta cursos de redação e, sem dúvidas, também como consumidora desse tipo de serviço. No início de sua preleção sobre como escrever ficção, a partir de sua própria experiência, ele toca em um ponto que me é muito caro: a presunção da pessoa que está na posição de mentorar cursos de escrita.

Talvez por causa do marketing de conteúdo, ou talvez porque o mundo seja, mesmo, uma fogueira das vaidades, muita propaganda de curso que chega até mim vem carregada de sucesso pré-fabricado com promessas de multiplicação: sou isso, fiz aquilo, escrevi tantos livros, editei milhares de outros, traduzi 14 e sou um deus desperdiçado pelo mercado literário.

Na contramão disso tudo, King fala, sem meias palavras:

Se eu pretendia ser presunçoso a ponto de dizer às pessoas a escrever, era melhor encontrar um motivo além da minha popularidade. Dito de outra forma, eu não queria escrever um livro, nem mesmo um tão curto quanto esse, que me deixasse com a sensação de charlatanismo literário ou babaquice transcendental. Desse tipo de livro – e de escritor – o mundo já está cheio, obrigado”.

E é isso mesmo.

Hoje em dia, ofertar cursos na internet é fácil, gera dinheiro rápido para quem empreende nesse setor e atinge muita gente. Bato palmas para quem dispõe seu tempo, sua energia e sua criatividade fazendo vídeos, webinars e a coisa toda. O acesso à informação é incrível e deve ser fomentado. Mas a presunção precisa, mesmo, ser um item da propaganda?

Assisti a filmes que ironizam esse tipo de curso (O Autor, da Netflix, é um deles) justamente porque o cenário é caricato: a sala repleta de pretensos escritores, cada um com seus sonhos de verão destruídos por um professor (geralmente um homem, mesmo) que julga saber tudo sobre tudo porque fez um livro de algum sucesso há vinte anos e nunca mais conseguiu sair da sombra de sua criação.

O mentor de escrita ideal, pra mim, não deve ser escolhido só por ser o mais famoso, ou por ter dito ou feito as melhores coisas. Também não é só aquele que vai te cobrar mais: é quem vai te entregar o tipo de conteúdo que você quer ouvir em determinado dia de sua vida, da sua trajetória. Ponto.

Lembre-se: não há meio termo.

Se alguém do seu bairro está propondo um dia de atividades criativas e é isso que você precisa para desbloquear seu lado sensível, pague por isso.

Se J.K. Rowling está na cidade falando de ficção fantástica enquanto você tem uma peça de high fantasy precisando ficar pronta logo, pague por isso.

Se você quer fazer cursinho só para assistir às aulas de literatura e se inspirar pelo que os estudantes estão lendo, pague por isso.

Pague o que você quiser, desde que seja aquilo que você julga precisar naquele momento. Se a escolha for certeira, será um investimento. Não faça cursos de escrita só para se exibir ou troçar sobre o talento (ou a falta de) de outras pessoas. Isso, sim, é dinheiro jogado fora.

O que aprendi no melhor curso de escrita literária que fiz

Em 2017 participei da Oficina de Literatura ministrada pelo José Eduardo Gonçalves, da Editora Conceito. Foi, até hoje, o melhor curso de escrita literária que já fiz – e, se ele estiver com turmas abertas, recomendo fortemente que você se inscreva.

O Zé é da minha cidade-natal e fez uma carreira incrível na editoração de livros, principalmente sobre a cidade de Belo Horizonte, mas em nenhum momento a oficina foi sobre ele, sobre as coisas que ele fez. É claro que a experiência emergia ao contar um caso ou outro, mas a estrela da festa era a arte de escrever – e ela não perdeu o holofote.

Conheci novos autores, novas linhas de pensamento, escrevi contos rápidos a partir de migalhas de pão que o mentor ia deixando pelo caminho, chocada por rabiscar coisas que jamais imaginei ser capaz de projetar. E assim, de supetão! Foram quatro segundas-feiras das mais incríveis, que me ajudaram não só a escrever com mais criatividade mas, também, a me comprometer de corpo e alma com isso.

Livros como o de Stephen King e Austin Kleon, sobre a criatividade, me ajudaram a perceber a responsabilidade de ser escritora, mas duvido que teriam esse efeito caso eu não estivesse naquela oficina do Zé. Das anotações mais viscerais sobre o que ele disse naquelas noites de segunda, guardei com afeto essa aqui:

O trabalho de escrita é solitário, mas todo texto está destinado a um leitor – e o escritor precisa merecê-lo”.

O curso todo teria valido só por essa frase, mas foi mais que isso. Valeu por muitos outros insights maravilhosos que um cara com uma boa bagagem, mas sem presunção ou vaidade, dividiu com a gente. Nesse curso fiz amigos, maturei ideias e me tornei mais aberta a me expressar em outros cursos de escrita criativa.

Que, aliás, hoje caço como uma maluca.

Adoro o barulho que fazem no meu cérebro os cursos bons onde invisto meu dinheiro, meu tempo e minha energia. Se você estiver precisando de companhia para o próximo, pode me chamar que eu vou contigo. 😉

4 Comentários
  1. avatar image
    Priscila Caprice at 19 de julho de 2019 Responder

    Oi!
    Amei seu texto e sua empolgação com a escrita. Tenho buscado informações sobre escrita e aperfeiçoamento na área pela internet e me deparei com um texto seu – creio eu – na Rockcontent que me trouxe aqui. Obrigado pelas dicas. Sempre gostei de escrever mas percebo que ando mais “falando” do que praticando;preciso simplesmente sentar e escrever!

    1. avatar image
      Lais Menini at 23 de julho de 2019 Responder

      Oi, Priscila! Fico feliz por ter te ajudado. 🙂
      Se precisar bater papo sobre isso, conte comigo! É só enviar uma mensagem lá na aba “Contato”.

      Um beijo!

  2. avatar image
    Theo Nael at 5 de setembro de 2020 Responder

    Seus textos são incríveis mesmo, faz parecer ainda mais possível o meu desejo de escrever para mudar vidas, esse é o meu propósito. Preciso só entender melhor como começar. Obrigado, e continue escrevendo. 🙂

    1. avatar image
      Lais Menini at 6 de setembro de 2020 Responder

      Ei, Theo!
      Se eu puder te dar uma dica que, por mais óbvia que pareça, é muito eficiente, te deixo com essa: comece pelo começo.

      Um beijo!

Deixe um comentário

Assine a newsletter!

Deixe seu e-mail e você receberá o Literama em sua caixa de entrada!