Uma das memórias mais vívidas da minha infância é entrar em um sebo, em Juiz de Fora (MG), e ouvir que poderia escolher um livro.

Eu devia ter entre cinco e seis anos de idade e passava férias na casa das tias. Acredito estarmos falando do ano de 1992. Em 2019, lembro do livro que escolhi, fino e bastante ilustrado: Ali Babá e os 40 Ladrões.

Nossas memórias são o que fazemos delas, e talvez esse não seja o primeiro livro que ganhei, mas é o que mais marca a narrativa que vem a seguir.

Sou de São João del Rei, também em Minas Gerais, e essa lembrança traz à tona momentos em que, durante as férias na casa da tia Áurea e da tia Elsa, uma das programações era ir ao shopping, espaço que ainda não existia na minha cidade.

Lá, eu e meu irmão Alexandre, três anos mais novo, tínhamos uma rotina bem interessante: brincar, fazer lanche e ganhar um presente.

Alexandre escolhia brinquedo, eu voltava abarrotada de livros e revistinhas, passando por Turma da Mônica e indo até os encartes de novela que falavam de Chiquititas e CRUJ.

Também me lembro, com vivacidade, da cartilha com que fui alfabetizada no Jardim de Infância Pingo D’Água, chamada “O Sonho de Talita”, de me sentar na beirada da piscina, ainda em Juiz de Fora, para ler “Éramos Seis”, e de me borrar de medo, no quarto da minha casa em São João, ao ler “Descanse em Paz, Meu Amor”, leitura sugerida na sexta série.

“Vinda com a Neve”, “A Vaquinha Mimosa”, “A Terra dos Meninos Pelados” e “O Fantástico Mistério de Feiurinha”, além de toda a coleção de Monteiro Lobato, também me vem à mente, anos depois, com a mesma textura e emoção.

Se me dedicar com afinco, posso até sentir o cheiro de todos esses livros, que ganharam, em minhas mãos, dimensões incríveis. Viajei por muitos mundos, terras e situações sem sair do meu quarto – ou debaixo do pé de manga do sítio dos meus avós.

(Ok, essa é a parte em que a escritora em mim romantiza os fatos. Ler debaixo do pé de manga poderia ser perigoso, e não me lembro de ter feito isso. Mas que fique a imagem para a posteridade, assim como a de Newton e a maçã.

Ok, essa sou eu tentando me comparar a Isaac Newton.)

Hoje, quando olho para minha lista de livros a ler nos próximos meses, me lembro nitidamente de todas as sensações que me fizeram querer consumir livros, em um primeiro momento, e de tudo o que me leva a escrever e a sonhar publicar minhas próprias linhas.

Não é de se estranhar, portanto, que eu tenha vindo parar – com um delay de alguns anos, para quem conhece minhas empreitadas digitais – em um blog que fale de livros.

Fico feliz que você tenha o interesse de ouvir o que tenho a dizer sobre esse fantástico e absolutamente discutível universo. 🙂

Sobre o “Literama”

Escolhi o nome Literama justamente pelas memórias de infância que me relembram como tudo isso começou: enquanto meu irmão, primos e amigos estavam atentos aos videogames, eu estava lendo.

Quando penso em games, vejo máquinas hipercoloridas e iluminadas que transportam o jogador para um universo paralelo, onde ele precisa ser agente atuante em uma aventura para alcançar objetivos que, primordialmente, não eram dele. Ele sequer sabia que essa aventura existia.

É exatamente assim que me vejo como leitora, incluindo a hipercor e a hiperiluminação. Então, se os outros têm seus fliperamas, eu tenho meu literama.

A boa notícia é que essa não é uma marca registrada e, portanto, você pode ter um literama também. ;p

Nesse site quero falar dos livros que leio, dos que quero ler e dos que nunca li ou lerei. E daqueles que quero escrever também, ou dos que escrevo apenas na minha cabeça, e que jamais verão a luz do dia.

Vamos brincar de dar dicas, sugestões de leitura, de falar besteira. De rir ou chorar com uma obra – ou fazer as duas coisas ao mesmo tempo (sim, é possível, testei e aprovei essa teoria com “Melancia”, de Marian Keyes, em 2010).

Vamos brincar de ler.

Quero conversar com outros escritores (ou Player 1) e leitores (Player 2). Quero me sentar na mesa com vocês e… jogar.

Em resumo, o Literama é uma obra de ficção sobre minha passagem pelo mundo da literatura, como autora ou observadora. E, na ficção, tudo é permitido.

Leitura é diversão, é fantasia, é a ferramenta imaginativa que nos faz viajar pelos países, planetas, via láctea, universo inteiro sem sair da cadeira.

Escolha bem a cadeira, pois a viagem tende a ser longa: o livro é o meio de transporte mais eficaz entre o que você é hoje e o que sonha ser amanhã.

O que sou hoje é uma balzaquiana tentando deixar como legado a paixão inestimável pelas palavras, com profundo senso de agradecimento a todos que, um dia, ousaram escrevê-las.

E amanhã? Não faço ideia.

Mas acho que a menina que escolheu o livro de Ali Babá em 1992 adoraria ver que ela continua por aqui, comprando novos livros e revistas e sonhando em se tornar imortal em linhas, de código ou de papel.

Onde toda essa viagem acaba é uma história que começa, hoje, a ser escrita.