Quem se aventura no primeiro livro da série After e se entrega a um romance cheio de altos e baixos percebe que o grande clímax da história está no final (nada feliz) da obra. No filme, isso fica mais claro.
Apesar de todos os problemas, Tessa e Hardin conseguem se entender, morar juntos e construir uma história, mas é só entre as últimas páginas que o leitor conhece a tragédia que envolve o romance.
E é justamente aí que ele se compromete – ou abandona – a leitura.
A ocorrência traumática que encerra o primeiro livro é o grande ponto de identificação entre quem lê e os personagens. Ou você ama ou você odeia, e essa é a característica de uma escrita intensa que desperta várias ondas de sentimentos durante a leitura. Uma coisa é você ler sobre uma aposta em um livro qualquer, outra é ler com a escrita de Anna Todd, que já emociona desde o primeiro capítulo.
Quem fica na história e se compromete a ler os outros livros tem suas motivações particulares. Ou se identifica com Tessa, ou com Hardin ou com a própria escrita. Há um ponto de identificação (ou de contra-identificação) que o faz seguir em frente. É impossível não se colocar no lugar de um dos dois, e isso também vale para quem abandona a leitura. Esse é o papel da tragédia nos momentos finais: comprometer o leitor a seguir na história.
After we collided: a segunda parte de After
Se fosse para descrever o verdadeiro início da narrativa de After como um romance a dois, eu começaria por “Depois da verdade” (After we collided). É neste momento que os ideais do amor romântico rolam ladeira abaixo.
É justamente nele que conhecemos as verdadeiras fraquezas, os limites, os arranjos e as possibilidades que cada sujeito dá conta nesta literatura. Enquanto, no primeiro livro, os protagonistas passam a conhecer a si mesmos a partir do que o outro desperta, é no segundo livro que eles se reconhecem como um casal.
O que “colide”, neste ponto, é o sujeito frente ao outro, na parceria amorosa. Grandes gênios e grandes histórias se revelam a partir de tragédias, bem como grandes romances. Como conhecer o amor verdadeiro se só se vive no amor ideal? O que colide não é o amor, não é o comprometimento, mas é a verdadeira pergunta: “Quem é você depois da colisão?”.
O que você faz, como você se reinventa, como sobrevive?
O segundo livro é para mim uma metáfora do jovem frente a impossibilidade do amor que fura, que falta, que está muito longe do ideal desejado. Depois desse clímax, conhecemos de verdade quem é Hardin e quem é Tessa.
E quem eles são?
Já comentei nesta coluna, em diversos momentos, que After, para mim, é a história de Hardin. Enquanto cria diversos problemas, ele faz girar o discurso da história.
Depois da ‘tragédia’ da aposta conhecemos um sujeito enfraquecido frente à decisões erradas que, por temer o julgamento do outro, ou se entregar ao amor, fica na corda bamba entre ser um príncipe encantado e o garoto da recusa do mundo.
Tessa idem. O que se revela como ‘fragilidade’ no momento em que ela é exposta aos amigos, retorna como força fundamental para reerguer o relacionamento e a ela própria, nas decisões que será capaz de tomar a seguir.
É na tragédia que conhecemos o amor real.
É claro que não são as mesmas tragédias e há uma ética social e do respeito (que Hardin vai aprender tardiamente), mas é o real que faz furo no discurso do ideal. E esse é o ponto que After causa a identificação principal com o leitor, porque ele traz as impossibilidades do desejo. O objeto desejado, para a psicanálise, é sempre causa de insatisfação, vamos sempre em busca de algo perdido, que nunca será igual, nunca irá representar aquilo que realmente desejamos. Sempre vai faltar. E é esse furo que After representa para quem lê.
O ideal do amor torna-se menos traumático com o real que está em jogo nessa leitura, e é por isso que ele faz do amor, algo possível de se suportar. E é aqui, justamente neste ponto, que o leitor decide encarar a leitura.
Antes de ir embora…
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