Não, esse texto não é sobre técnicas de leitura dinâmica ou de interpretação de texto – embora os dois temas rendam uma boa conversa. Pra comemorar o Dia do Leitor 2021 escolhi falar um pouquinho sobre nossos hábitos oftalmológicos de leitura.
Mas, Laís, você é oftalmologista, por acaso?
Claro que não – mas sou jornalista; fazer perguntas para especialistas é uma das habilidades da profissão. ;p
Dessa vez, pedi dicas para o corpo clínico do COA, um centro oftalmológico aqui de BH que acompanho faz um tempão. A ideia desse artigo é bem simples: levando-se em consideração que precisamos dos olhos para ler, e que vista cansada e catarata são respostas naturais ao tempo de uso desses órgãos, o que é preciso fazer para garantir uma excelente “vida útil ocular”?
Primeiro passo: calibrar a vista
Eu uso óculos desde que me entendo por gente e, durante os anos, tive episódios em que a leitura estava embaçada, mas só para um olho. Geralmente era nessa experiência que eu me lembrava de marcar a visita anual ao oftalmo.
Enquanto isso, o que eu fazia era fechar o “olho ruim” e ler só com o “olho ok”, como paliativo. Mas, segundo o Dr. Nikias Alves, do COA, essa não é a melhor forma de proceder:
Não recomendamos tampar um olho, já que um acaba ajudando o outro – e, eventualmente, compensando a diferença.
O ideal é buscar assistência médica caso o desconforto seja palpável, com dores de cabeça, enjoos ou o simples incômodo de ver as letrinhas borradas. O Dr. Nikias lembra que o uso de óculos não é uma imposição médica, mas uma medida para gerar mais conforto ao paciente.
Como o meu grau é bem alto, qualquer mudança pequena já faz a maior diferença na minha rotina…
Ah, o oftalmologista também atenta para a escolha da armação dos óculos, já que ela depende mais do tipo de lente a ser utilizada do que, de fato, do “estilo” que escolhemos para ficar bem na foto. ;p
Dr. Nikias lembra, ainda, que boas óticas vão levar em consideração a inclinação adequada dos óculos na face da pessoa para vender o melhor produto. Em outras palavras, seus óculos não podem estar nem lá na ponta do nariz e nem grudados na cara.
Pra finalizar essa parte de calibragem de vista no Dia do Leitor, uma dica importante que ele dá para quem usa óculos é: não utilize o recurso para a visão periférica, já que muitas lentes apresentam o que os médicos chamam de “aberração” nas partes laterais.
Quer ler algo no cantinho da página ou bicar o que a pessoa do seu lado no ônibus está lendo? Vai ter que virar a cabeça, sinto muito.
Qual é a iluminação ideal para ler?
Essa é uma das perguntas de um milhão de reais que os oftalmologistas são chamados a responder – e que nós, leitores, estamos propícios a errar a resposta.
A regra é clara: ler na penumbra não é uma boa, nunca. Mesmo no Kindle com variação de iluminação, o ideal é ter alguma luz complementar se o ambiente estiver muito escuro – tipo o quarto, na hora de dormir, por exemplo.
Ler ao ar livre é excelente para aproveitar a iluminação natural, desde que o sol não esteja na direção dos seus olhos. A luminosidade em excesso pode ofuscar a visão e tirar um pouco da sua atenção para o livro, já que você vai se preocupar mais com esconder-se do sol do que interpretar o texto.
No meu quarto, que é bem iluminado durante o dia, o que faço é ler deitada, de costas para a janela aberta, de manhã ou à tarde. De noite, tenho uma luminária básica de suporte para ler durante a noite, mesmo com as luzes apagadas.
No Kindle, eu costumava só calibrar a luminosidade de acordo com meu conforto, mas vou começar a usar a luminária para ele também, sempre que possível.
Vai viajar no dia do leitor? Pode ler no carro!
Ou no ônibus, avião, trem, metrô… basicamente qualquer veículo em movimento. Só não indico ler na moto, skate ou patins por razões óbvias! ;p
O importante é que ler em movimento não vai “estragar” seus olhos; você não vai ter nenhum descolamento de retina ou antecipação de problemas de visão por causa disso.
Por outro lado, se os olhos estão a salvo, seu estômago talvez não esteja…
O balanço do veículo compete diretamente com a nossa tentativa de fixar os olhos no livro físico, Kindle ou celular – e o cérebro pode interpretar essa “briga” de várias formas. Uma delas é causando enjoo ou vertigem. Eu sou bem desse time: não consigo ler nem celular no carro; preciso esperar parar em um sinal ou estacionar para ver uma mensagem, por exemplo.
Óbvio que isso é quando eu estou no banco do carona; dirigindo a gente não deve desviar o foco da direção em nenhuma circunstância!
Já no trem/metrô, é engraçado: se meu corpo está na mesma direção para a qual o veículo se move, leio de boas. Mas, se estou em um banco “de costas” para o maquinista, aí o enjoo vem. Vai entender.
No avião eu leio direitinho, sem problemas. Dependendo da turbulência, paro, mas, geralmente, lá em cima consigo ler de boa.
A importância dos bons livros nesse contexto
Cientificamente, não existe nenhuma comprovação de que livros bons melhoram a prática da leitura, do ponto de vista oftalmológico. Livros chatos também vão surtir os mesmíssimos efeitos. ;p
Contudo, bons livros vão nos dar ainda mais razões para ler bastante. Por isso, se hoje, Dia do Leitor, você está lendo um livro e odiando, pare já essa tortura e pegue um livro que te dê prazer!
Mesmo que nossos olhos tenham uma longa vida útil, nós, seres humanos, não temos tempo de vida necessário para ler tudo o que a gente quer. Então, só nos resta priorizar, tirando do caminho as leituras que não te agradam.
Por fim, um livro bom é exatamente isso: um livro que te agrada, que te diverte. Independentemente do que dizem os críticos literários, as resenhas desse blog e de tantos outros, o mercado editorial ou seus amigos, o que você tem em mãos só pode ser considerado excelente ou péssimo por… você.
Não fique com dó de deixar pra lá o que você acha ruim, mas que está sendo super incensado por todo o resto do mundo. A vida – incluindo a dos olhos – é curta demais para considerar o efeito manada na biblioteca. ;p
Curtiu essas dicas baseadas na opinião de especialistas (e, na última, na minha própria opinião de especialista em nada, mesmo)? Deixe aqui nos comentários qualquer contribuição para o processo de leitura certa que eu não tenha contemplado!
E me conte: qual é sua aventura nesse Dia do Leitor?
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