Um domingo para sempre

Em 2005, julguei um livro pela capa. Erro de principiante. Era meu primeiro ano de faculdade, eu achava que precisava ler coisas mais eruditas e, ao ver Um domingo para sempre na estante da livraria, achei que seria uma escolha dentro desse padrão.

Capa preta, silhueta, um coração em lágrima e um título que eu gostaria de ter, eu mesma, dado a algum livro, custaram, naquela época, coisa de cinquenta reais. Li as duas primeiras páginas e parei. A história não me pegou de jeito nenhum. Pensei que talvez uma jovem universitária de 18 anos não fosse capaz de julgar livros pela capa.

Hoje, aos 33, tenho certeza: julgar pela capa é um risco. A gente só aprende com muito dinheiro jogado fora.

Mas, calma – que, nesse caso, temos um final feliz! 

Embora tenha deixado a leitura de Um domingo para sempre de lado em 2005, guardei o livro e, treze anos depois, resolvi dar uma chance a ele. O que o tempo não faz, não é mesmo? Fiquei feliz por não ter me desfeito dessa leitura, que foi excelente. 

Essa situação corrobora uma teoria meio maluca que eu tenho, sem nenhuma comprovação científica, que diz o seguinte: a gente pode até comprar um livro, mas, no fim das contas, é ele que escolhe o tempo de se mostrar pra gente.

Sinopse de Um domingo para sempre (sem spoilers!)

Um domingo para sempre, do escritor Sébastien Japrisot, narra a história de um jovem casal, Mathilde e Manech, separado pela Primeira Guerra Mundial. Ele faz parte de um grupo de soldados franceses que, após se automutilarem no intuito de voltar para casa, são condenados à morte e lançados à neve, em 1917, por deserção. 

Mathilde, então, empreende uma busca implacável pelo amado, quer ele esteja vivo ou morto. Ela enfrenta, por anos, o julgamento e a desaprovação de todos os que a julgam traçar uma jornada inútil, mas a jovem não se abala. Sua obstinação pela sobrevivência do amor no início do século XX é um retrato fiel da ânsia por resistir.

Para quem diz que “vai esperar virar filme para ler”, a boa notícia é que já existe um filme inspirado na obra: Eterno Amor, de 2004.

Um período na história

A leitura de Um domingo para sempre é densa; por vezes, precisamos redobrar a atenção para passar de uma página à outra. Se você perder a concentração no meio do caminho, não se preocupe: é normal e continue, porque vai valer a pena.

O romance de Japrisot, afinal, é mais que uma capa bonita e intrigante. Ele traz, por exemplo, mensagens certeiras sobre a (necessidade de) uma guerra, o exagero burocrático europeu e, também, sobre a forma com que as mulheres sofriam por seus homens mortos.

Se mantivermos a atenção durante as páginas, teremos um retrato fiel dos bastidores da Primeira Guerra Mundial. Isso é possível graças à narrativa sólida do autor, inspirada em casos contados a ele pelo avô, que participou do período caótico. Todos os elementos estão lá: a guerra, a fome, o luto, a busca pela sobrevivência, a morte, a sede por justiça, a esperança, a desesperança. O amor. Ele também está lá, pois não há guerra que possa impedir o alcance dos sentimentos.

Para quem curte romances históricos, como os livros de Bernard Cornwell, essa pode ser a leitura ideal – menos se você tiver 18 anos e estiver começando agora a buscar leituras eruditas. Não sou ninguém na fila do pão para poder cravar certezas, mas pode ser que você ache melhor esperar até os 30 para poder saborear esse livro da forma que ele merece. 

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