Dica de leitura: À Espera de um milagre

Você já deve ter visto esse filme — literalmente. À Espera de um milagre foi feito outro dia, na aurora dos anos 2000, mas já pode ser considerado um clássico do cinema. O que talvez nem todo mundo saiba é que a versão em filme surgiu, primeiro, em textão. E pelas mãos de ninguém menos que Stephen King.

Se eu fosse uma extraterrestre descendo à Terra hoje e me entregassem uma cópia de À Espera de um milagre para ler, jamais diria que seu autor é especialista em contos macabros. O cenário principal da narrativa, o corredor da morte da penitenciária de Cold Mountain, pode ser notado como quase familiar, graças aos personagens que dele fazem parte, principalmente o protagonista, Paul Edgecomb.

O formato é um flashback, já que começa quando Paul está em um asilo e conta à companheira de quarto uma história que se passou anos antes, quando ele ainda era chefe da guarda no corredor, apelidado de A Velha Fagulha. O motivo de sua lembrança é John Coffey, um peculiar detento que passou pelo setor em 1932, ao ser condenado à morte na cadeira elétrica pelo estupro e assassinato de duas crianças, as gêmeas Detterick.

Embora o ambiente no corredor da morte não seja (aliás, não sei, nunca fui lá, mas acredito que não deva ser) tão aprazível, À Espera de um milagre nos mostra que esse setor ainda guarda centelhas de humanidade. E, para Paul, quem mais demostra isso é Coffey. Com o passar do tempo, e na ocorrência de alguns eventos fantásticos, o chefe da guarda passa a ter certeza de que está prestes a mandar um homem inocente para a eletricidade. 

A pergunta é: será que ainda há tempo de provar a inocência de alguém que tem a vida nas mãos do Estado?

Curiosidades sobre À Espera de um milagre

O Literama já viu resenha de It, A Coisa e Sobre a Escrita, dois livros do mestre Stephen King. Ainda falta o de O Iluminado, que são todos os que eu já li, além de À Espera de um milagre. E, depois dessas experiências, ainda não me convenci totalmente de que King é um narrador do horrendo. O Iluminado de fato nos traz arrepios, mas, de modo geral, Steve me parece um grande fã da esperança – e o que mais nos aflige no terror é a morte desse sentimento. 

Mas vamos voltar um pouco no tempo, especificamente em 1996, quando esse livro foi lançado. Acredito que, por termos hoje um volume de informação bem maior, não são muitas coisas que nos assustam. Para afirmar isso levo em consideração que, hoje, pouquíssimos filmes de terror me tirariam o sono, ao passo que na década de 1990 eu tinha arrepios só de pensar em abrir o site assustador.com.br. ;p

Gosto de pensar que os primeiros leitores de À Espera de um milagre sentiram a espinha gelar no final do século passado. 

Uma das muitas curiosidades sobre a obra é que ela foi escrita para ser publicada em fascículos em um jornal americano. Ao todo, foram seis volumes, e os leitores tinham de esperar até a próxima semana para saber o que ia acontecer, tipo Teoria do Amor. ;p 

Outro detalhe interessante é que essa é uma das poucas obras de King que não são ambientadas no Maine, seu estado-natal, mas sim em Louisiana. Para não se desfazer completamente das raízes, Steve deu a seu personagem um sobrenome que é, também, uma cidade do Maine.

Stephen King na cadeira elétrica

Aliás, o escritor visitou o set de filmagem de À Espera de um milagre. Por isso, temos uma foto de King sentadinho na cadeira elétrica, versão 1930. Nesse vídeo dá pra ver que ele não curtiu muito a experiência…

Por que ler À Espera de um milagre?

Além de ser uma história contada com muito carisma, À Espera de um milagre também faz as vezes de crítica política e social dos EUA da primeira metade do século XX. Pra começar, o livro faz uma crítica sobre a existência da pena de morte e seus métodos, de forma que leva o leitor a refletir se essa é uma saída eficaz para o sistema penitenciário e de segurança pública.

A obra de King também traz temas indigestos, como nepotismo, doenças terminais, a vida em um asilo, quando todas as pessoas com quem você contava já se foram. E, para coroar a crítica ao sistema, o racismo estrutural norte-americano é abordado de forma magistral, tanto no livro quanto no filme.

John Coffey, o principal hóspede do corredor da morte, nesse ponto da narrativa, é negro. Corpulento e iletrado, foi o primeiro – e único – apontado como perpetrador dos crimes acusados. Mesmo sem precedentes, jurando ser inocente, Coffey é sentenciado à morte. No livro, temos a amarga certeza de que o desfecho foi esse porque o suspeito é negro.

É com esse desconforto (proposital e muito útil, principalmente nos dias de hoje) que o leitor de À Espera de um milagre segue em uma leitura emocionante, intrigante e até bem divertida, apesar das partes que trazem tristeza e angústia. Medo? Medo, não. Nessa obra, a realidade é tão dolorida que é a certeza de sua existência que nos apavora.

Em resumo, À Espera de um milagre é um livro que não deixa dúvidas da maestria autoral de Stephen King. Aclamado como um dos maiores escritores da contemporaneidade, ele parece não perder uma única oportunidade de mostrar a que veio. 

À Espera de um Milagre – Ficha Técnica

Título original: The Green Mile

Autor: Stephen King

Editora no Brasil: Suma

Preço na Amazon: R$50.40 (Melhor preço! Comprar na Amazon)

Preço no Submarino: R$54,65

Preço na Leitura: R$74,90

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