A história de Michelle Obama

Uma conversa sobre histórias que valem a pena ler.

Todo mundo tem uma história. Vai lá na seção de biografias da Amazon que você comprova isso. Às vezes, vai achar que ali tem histórias que não precisavam estar ali. A pessoa é nova demais ou irrelevante demais (!) para ter uma biografia. Outras você vai ficar feliz por existirem – inclusive, 10 delas eu sugiro fortemente. Michelle Obama é uma figura que entra no segundo grupo.

Que bom que existe esse livro! 

Ler a história de Michelle Obama é uma atividade não só fascinante, mas necessária. Minha experiência com a obra foi incrível; em muitos pontos fiquei feliz em ver semelhanças entre meu ponto de vista e o dela, que é uma das mulheres mais fodas e influentes do mundo.

Capa da biografia de Michelle Obama

Falar de livros que gostei de ler é muito fácil. É um prazer e uma grande diversão, mas não é só isso que tento fazer aqui no Literama. Os livros nos abrem as portas de outras vidas e experiências e, quando a leitura é muito especial, é até injusto nos contentarmos apenas com uma resenha. Minha história, da Michelle Obama, nos inspira exatamente a isso: ver mais, ir além.

Essa biografia é daquelas que, além de engrandecer pela experiência, ainda mata nossa curiosidade sobre um tipo de rotina peculiar. No caso de Michelle, a vida antes, durante e depois da Casa Branca. Se você nunca quis saber como é a vida dessas pessoas (realmente) poderosas, eu te invejo.

Mas, para minha sorte, Michelle contou tudo com muita classe e levou a gente em um tour não só pelo prédio, em si, mas também pelo cargo (sim, cargo) de Primeira Dama e a criação de duas crianças em um ambiente completamente diferente do que vivem todas as outras crianças do mundo.

E tem mais.

Do que é preciso abrir mão para ser Michelle Obama?

Quando Michelle Obama conversa com a gente sobre a própria história, já dá pra sentir, desde o começo, que não é qualquer uma. Ela é uma mulher sempre forte, sempre independente, que se casou com um cara que, um belo dia, se tornou o homem mais poderoso do mundo. 

Isso não tira o brilho que ela tem, mas traz algumas perguntas acerca de como ficou sua independência e expertise depois desse encontro com Barack, que foi seu mentorado em um escritório de advocacia. Afinal, quando ele abraçou a carreira política (que ela sempre achou um saco), Michelle deixou de advogar para dar o suporte necessário ao marido e dar uma atenção especial à criação de Sasha e Malia. 

Atenção: isso não quer dizer que ela parou de trabalhar. Algo que ela faz questão de deixar claro no livro é o poder da sua própria escolha e como ela não foi um ponto de afetação no casamento (ainda que, em algumas partes da trajetória, o casal Obama tenha recorrido à terapia marital).

Quando as perguntas sobre seu papel emergem de si mesma, Michelle responde através de seu background: a família vem primeiro – sim, inclusive antes do país inteiro. 

Isso fica claro, por exemplo, quando ela conta que o horário da janta na Casa Branca era 6:30 – e o papai que estivesse lá essa hora, pois ninguém esperaria por ele caso ele se atrasasse. Seu objetivo não era colocar o pé na agenda do presidente dos Estados Unidos, mas destruir o conceito patriarcal de que as mulheres só se sentam à mesa quando o homem da casa chega após o dia de trabalho, não importa que horas isso aconteça.  

Essa firmeza em localizar a família em primeiro lugar vem de sua infância e adolescência em Chicago, enquanto ela ainda era Michelle Robinson. A menina cresceu tendo por perto seus pais e irmão Craig, além dos avós, e todos faziam questão de reafirmar o valor do negro na sociedade norte-americana. Isso fez com que ela crescesse confiante e determinada, e a própria Michelle reconhece que, em um mundo racista e dividido, ter essa força na própria família é um grande privilégio.

O fator inegociável

A vida de Michelle Obama é uma vida real, embora ela se assemelhe a uma rainha em todos os sentidos da palavra: é poderosa, magnífica, tem um coração nobre e valores capazes de mudar o mundo para melhor. E, como na vida real, ela conta no livro Minha História alguns percalços que, vistos por outro prisma, poderiam mudar toda a narrativa.

Algo que ela leva como uma mágoa – e isso fica bem claro no documentário Becoming, da Netflix – é a conversa que teve com uma conselheira de sua escola. Nos EUA, quando os alunos estão prestes a ingressar nas universidades, eles têm aconselhamento de um tutor escolar para que possam se decidir e, eventualmente, direcionar seus esforços para uma ou outra faculdade.

foto de formatura de Michelle Obama

Michelle sempre quis ir para Princeton, mas sua conselheira disse que talvez fosse melhor mudar de ideia, já que ela não era “material para Princeton”. Ou seja, ela não tinha nada que se encaixasse nas definições de um aluno interessante a essa instituição. A futura primeira-dama ficou full pistola, bateu o pé e foi para Princeton. 

Aliás, vale aqui ressaltar que ela estudou não só em uma, mas em duas universidades da Ivy League, que é o grupo com as oito escolas superiores mais prestigiadas do país. Além de Princeton ela também fomentou seu conhecimento em Harvard. Ou seja, a mulher é inteligente pra mais de metro, característica que a precede até os dias de hoje.

Quem quer que trabalhe com ela, como o documentário da Netflix mostra, ressalta o quanto ela é inteligente em várias áreas, incluindo a emocional.

Algo que demonstra essa fibra feminina de Michelle em termos de inteligência emocional é a parte em que ela narra seu aborto espontâneo e o processo de fertilização in vitro para o nascimento de Malia. Ela conta que, quando conversou com amigos sobre o assunto, percebeu que isso acontece com mais gente do que a gente sabe, porque, bem, ninguém fala (ou falava) sobre isso abertamente.

(Eu falo, leia aqui meu relato.)

Outra passagem inspiradora é sua “luta” contra a imprensa americana que, durante a campanha eleitoral que elegeu Barack em 2008, a acusou de odiar os americanos e ser terrorista, entre outras barbaridades. Seu relato é muito significante e fortalecedor, principalmente para aquele momento em que a gente quer tretar por muito menos do que ela sofreu e se dá conta de que algumas brigas simplesmente não valem o esforço.

Michelle Obama é o tipo de pessoa que eu quero ser: enfrenta as batalhas com graça, sem esmorecer e sem deixar que ninguém a coloque em posições onde ela não quer estar. Ela quer pertencer à sua própria arena, ditar seu destino e ousar ser orgulhosa de seu passado. 

Na próxima vez que me perguntarem onde quero estar daqui a cinco anos, vou usar essa descrição e darei a questão como respondida. ;p

Michelle Obama para… presidente?

É difícil escolher algumas partes para esse texto sem o medo de estragar a experiência de leitura de quem, obviamente, ainda não leu Minha História. Fiquei na dúvida se falaria dessa parte ou não e decidi deixar o mistério no ar! #leialogo! 

Uma das perguntas que mais fazem a ela, e que ela responde com todas as letras em sua autobiografia, é: Michelle Obama vai se candidatar para algum cargo político no futuro, incluindo a presidência dos Estados Unidos?

Não seria algo inédito na história do país. Bem recentemente, vimos Hillary Clinton, ex-primeira-dama na gestão Bill Clinton, disputar o cargo com aquele que não deve ser nomeado (esse blog não dá palanque pra direita, desculpa). O mais engraçado é que, no número de votos, Hillary ganhou, mas, pelo sistema eleitoral americano, não levou. É complicado, mas acontece. 

Se fosse eleita, Hillary seria a primeira presidente mulher dos EUA. Além disso, seria a primeira presidente mulher que já foi primeira-dama. Além disso, seria a primeira presidente mulher e ex-primeira dama que serviu como Secretária de Estado na gestão Obama, além de senadora por Nova York de 2001 a 2009.

Esse extenso currículo e o papel ativo que Michelle desempenhou como primeira-dama, principalmente no desenvolvimento de políticas sociais, fez com que a pergunta se tornasse um clichê nas entrevistas pós-Casa Branca. A resposta dela está no livro, então, se você quiser saber, compra logo e lê rápido. ;p 

(Curiosidade: Hillary, assim como Michelle, também é formada em Direito por uma universidade da Ivy League, Yale.)

Ler ou não ler não é uma questão

Se você é uma pessoa negra, pode se inspirar muito com essa exceção à regra: Michelle e Barack foram o primeiro casal negro da história dos Estados Unidos a viver na Casa Branca por oito anos. Isso significa uma ruptura enorme para a historicamente segregadora sociedade norte-americana, ainda que o racismo estrutural ainda perdure por todo o mundo.

Se você é uma pessoa branca, precisa ler esse livro para entender onde é que você erra, onde falta consciência de raça e classe e como, eventualmente, você dá umas passadinhas de pano pra pessoas e situações que não merecem essa faxina, por mais que se identifique como progressista.

Para além da cor da pele, se você é mulher, leia muito Minha História, de Michelle Obama. Se você é mulher, casada, com filhos e um marido que tem uma carreira que o deixa um pouco mais em evidência que você, leia demais esse livro. Se você é mulher, casada, com filhos, marido bem-sucedido e quer esmagar o patriarcado com toda sua força, faça dele sua bíblia. 

E se você não é casada e não ter filhos, mas também está nessa luta contra o patriarcado, Michelle Obama te entende e vai ser uma excelente companhia pelos dias de leitura.

Se você é homem, leia também. A escrita de mulheres poderosas e sinceras é uma luz no fim do túnel de quem quer ser um macho mais humano. Embora eu acredite que as mulheres possam tirar melhor proveito dessa obra, não é uma questão de gênero; então, vai fundo.

Outros materiais sobre Michelle Obama

Livros (clique no título para comprar pela Amazon)

Minha História (versão física e Kindle)

Minha história: um diário para encontrar sua voz (diário inspirado no livro)

Documentários

Minha história (Netflix)

Indústria americana – uma conversa com Barack e Michelle Obama (Netflix)

Podcasts

Michelle Obama: felicidade, resiliência e histórias que conectam (por Andrea Iorio)

1 Comentários
  1. […] Em seu livro tem uma frase que me inspira muito acerca das expectativas de liderança que eu tenho: “eu não me casei com Barack para que ele me fizesse feliz; eu sou responsável pela minha própria felicidade”. E é bem isso: ninguém tem o cargo (ou o fardo) de responder pela nossa felicidade, animação ou disposição.  […]

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